mulher

Ana Lídia Puia

Historicamente a mulher foi constituída por uma série de discursos, como o discurso patriarcal e o familiar, que demarcaram não só sua posição na sociedade, mas que também contribuíram para a circulação de imagens ora afirmativas ora negativas do sujeito feminino. Atualmente, no Brasil, a mulher também passou a ser significada pelo discurso das políticas públicas. Tal discurso, ao funcionar em meio ao social e ao urbano, demarca e define o sujeito feminino por meio dos dizeres administrativo e jurídico. Já, ao se voltar para o dicionário, buscou-se observar como a história e o social contribuem não só para a construção de imagens da mulher, mas também para a constituição de suas posições sociais.

Assim, com base na análise do verbete mulher, coletado em 5 diferentes dicionários de língua portuguesa[1], verificou-se que o sujeito feminino é, predominantemente, definido por meio de um discurso biológico e fisiológico, depois por meio de um discurso jurídico, e, por último, por meio de um discurso que leva em consideração as posições que a mulher ocupa socialmente, como as posições de dona de casa e prostituta, marcadas por locuções como mulher do lar e mulher de programa, respectivamente. A figura feminina aparece significada pelo discurso biológico em definições como: “MULHER, A fêmea na espécie humana; pessoa do sexo feminino” (Freire, 1943) e “mulher, 1 indivíduo do sexo feminino, considerado do ponto de vista das características biológicas” (Houaiss, 2007). Já o discurso jurídico, manifesta-se em definições tal como a que se segue: “mulher. 7. Cônjuge do sexo feminino; a mulher em relação ao marido; esposa” (Aurélio, 1999).

Por último, a mulher é significada por meio de locuções adjetivas que se fazem presentes ora no interior do próprio verbete, como sub-entradas, ora constituindo um novo verbete. As locuções são tomadas aqui não estritamente de um ponto de vista linguístico, mas em sua relação com as condições de produção, uma vez que tais locuções funcionam para especificar e diferenciar as diversas posições que o sujeito feminino ocupa na sociedade. Isto se dá na medida em que, isolada, a palavra mulher significa “o ser humano do sexo feminino” (Aurélio, 1999), já, ligada à locução, a mulher passa a assumir posições socialmente e historicamente determinadas. Assim, locuções como mulher da vida, mulher de casa, mulher de negócios ou mulher a dias marcam discursivamente as posições sociais de prostituta, de dona de casa, de executiva e de doméstica, respectivamente.

Além disso, constatou-se que a posição social de prostituta ocupa, no interior do verbete, um papel significativo na caracterização da mulher. Há também a presença de enunciados que levam à construção de imagens depreciativas do sujeito feminino, como: “mulher 8.2.3 insensato, superficial, volúvel (aquela mulher troca tanto de marido quanto da cor do cabelo)” (Houaiss, 2007). Já, quanto se faz referência a qualidades culturalmente ditas femininas, lança-se mão de um discurso irônico, “mulher 8.2.2 sensível, delicado, afetivo, intuitivo (como mulher chora em todo filme romântico), ou de imagens que marcam discursivamente uma posição submissa da mulher frente à figura masculina, “mulher 8.2 fraco fisicamente, sem defesa: apelidado de ‘o sexo frágil’ (o que pode a mulher contra um homem em sua fúria?)” (Houaiss, 2007). 

Observou-se, ainda, que há uma tendência em opor o espaço privado e o espaço público na constituição das posições de dona de casa e de prostituta. No espaço privado, estaria a posição de dona de casa e, consequentemente, a construção da imagem de uma mulher que cuida de sua família, que assume obrigações domésticas, ou seja, que, de uma forma ou de outra, garantiria o bem estar e a ordem no ambiente familiar. Uma ordem, portanto, que se caracteriza pela figura histórica da “mãe de família”. Já no espaço público, estaria a posição de prostituta e a imagem de uma mulher perniciosa, que é desprestigiada socialmente pela sua atividade social e que, ao contrário, contribuiria para a desarticulação de uma possível ordem familiar.

 

[1] o Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa (1943), de Laudelino Freire, o Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa (1974), de Caldas Aulete, o Grande Dicionário Brasileiro Melhoramentos (1975), Aurélio Século XXI: o Dicionário da Língua Portuguesa (1999) e o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2007).








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