A locução guardador de carros, enquanto tal, não está presente no dicionário Aulete Digital, mas ali encontramos uma das definições de guardador, que nos chamou a atenção por se distinguir daquela de flanelinha no mesmo dicionário. Vejamos as definições:
“guardador. RJ SP Pessoa que guarda carros estacionados nas ruas; FLANELINHA; OLHEIRO” (AULETE DIGITAL, 2015)
flanelinha. RJ Pop. Pesssoa que, em troca de dinheiro, vigia veículos estacionados nas ruas” (AULETE DIGITAL, 2015)
O que distingue as duas definições é a substituição de “guardar” por “vigiar” e a presença, em flanelina, de locução adverbial “em troca de dinheiro”, que não está presente em guardador. Em guardador, a ação realizada parece digna, “guardar” se mostra como sinônimo de “cuidar”. Enquanto isso, em flanelinha, o verbo “vigiar” constroi uma cena que evoca uma ação de vigilância.
O que chama a atenção, sobretudo, é a presença, em flanelinha, da locução “em troca de dinheiro”, pois aí fica marcado o pagamento de um valor pela ação realizada, enquanto em guardador isso não se apresenta.
Embora não seja explícito no verbete, sabe-se que no discurso jurídico o recebimento de pagamento por guardar carros é considerado ilegal no Brasil, e assim é somente em flanelinha que essa interpretação é possível, visto que em guardador não se menciona qualquer forma de pagamento.
Decorre que, embora essas palavras sejam consideradas no próprio dicionário como sinônimas, há essa diferença de sentido no modo como elas são definidas: guardador se mostra como uma atividade habitual consentida, enquanto flanelinha traz a possibilidade da contravenção, ou do trabalho informal, numa interpretação mais recente.
Bibliografia
AULETE DIGITAL – O DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Disponível em: http://www.aulete.com.br. Acesso em 17 de março de 2015.