A palavra pedinte é daquelas que, por sua formação morfológica, diz ao mesmo tempo o nome do sujeito e a atividade que ele realiza. É assim que no verbete pedinte do dicionário Aulete Digital temos a definição: “que pede esmolas, que mendiga; mendigo”. Essa definição, efetuada por meio de um pronome indefinido, silencia qualquer nomeação hiperonímica para esse sujeito, que fica indistinto enquanto generalidade. É somente a atividade costumeira que ele realiza (“pede esmolas”) que é explicitada.
Diferentemetne de “lambe-lambe” (“Fotógrafo que trabalha nas ruas, parques e praças”), não se trata de uma ocupação nomeada profissionalmente e considerada como um trabalho . Daí, e por ser visto como um “sujeito improdutivo”, ele causa um certo incômodo no espaço público, e pode ser significado como “vagabundo”, “vadio”, “marginal”, conforme o discurso que o toma como objeto.
Nas políticas públicas brasileiras, está presente hoje em dia a nomeação “população em situação de rua”, que abrange moradores de rua, pedintes, mendigos, desempregados, trabalhadores infomais, dentre outros. Isso os torna sujeitos a práticas de assistência social, encaminhamento a instâncias de apoio e acompanhamento, bem como a uma tentativa de tirá-los das ruas, fazendo-os retornar a suas casas, quando isso é possível, ou retomar de um ou outro modo os vínculos com a sociedade.
Observe-se, ainda, que a palavra pedinte está em sinonímia com mendigo, porém há algumas diferenças. O mendigo costuma ser caracterizado como um personagem urbano, numa filiação ao discurso religioso, ou como uma figura pública cuja história de vida, os sofrimentos, as limitações e humilhações, passam a fazer parte das conversas e narrativas cotidianas, bem como de obras artísticas, na música, no cinema. Já o nome pedinte restringe os sentidos ao ato de pedir, sem que uma evocação histórico-social ressoe de forma mais ampla.
Bibliografia
AULETE DIGITAL – O DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Disponível em: http://www.aulete.com.br. Acesso em 17 de março de 2015.
GOVERNO FEDERAL. Política Nacional para Inclusão Social da População em Situação de Rua. Brasília: Governo Federal, maio de 2008. Disponível em: http://www.mds.gov.br/backup/arquivos/versao_da_pnpr_para_consulta_publica.pdf. Acesso em 24/11/2014.
SILVA, M. L. L. Trabalho e População em Situação de Rua no Brasil. São Paulo: Cortez, 2009, p. 271.