No dicionário Aulete Digital, lambe-lambe é definido como “Bras. Pop. Fotógrafo que trabalha nas ruas, parques e praças”. Tal definição ocorre por meio de um nome de profissão (“fotógrafo”) seguido de uma determinação que restringe seu estatuto de “trabalho” e seu lugar de atuação no espaço público (“que trabalha nas ruas, parques e praças”). Essa palavra é pouco utilizada hoje em dia, e quando utilizada geralmente é para se falar de um fato antigo. No entanto, sua presença no dicionário permite que a contrastemos com outras definições de ocupações no espaço público.
Tomemos a palavra amolador, que é definida no mesmo dicionário como “aquele ou aquilo que amola ou afia utensílios cortantes”. É também uma palavra que era mais utilizada há algumas décadas. A questão que nos interessa é notar que o amolador é definido pela atividade costumeira que ele realiza (“amola” utensílios) e não por ser essa atividade considerada um “trabalho”, como acontece com o fotógrafo. Não se diz que o fotógrafo “tira fotografias”, isso parece evidente, não é explicitado. E o que o define é o fato de ele “trabalhar” nas ruas, parques e praças.
Se relacionamos fotógrafo com outra palavra, como “catador” (“Aquele que cata (catador de papel)”), ocorre algo semelhante, ou seja, o catador é definido pela atividade que ele realiza habitualmente (“aquele que cata”) mas não por uma categorização profissional (como o “fotógrafo”) ou por um estatuto de “trabalho”.
Se continuarmos essas análises, chegaremos a identificar pelo menos duas séries de palavras: a primeira em que as ocupações são significadas como uma atividade habitual e a segunda em que elas são significadas como um trabalho ou uma profissão. Assim, as relações de trabalho estão marcadas no modo como a linguagem está funcionando nas definições, e isso também é uma maneira de distinguir na sociedade esses diferentes estatutos, seja para palavras de uso mais antigo, seja para aquelas em uso na atualidade.
Bibliografia
AULETE DIGITAL – O DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Disponível em: http://www.aulete.com.br. Acesso em 17 de março de 2015.