ipcc (painel intergovernamental sobre mudanças do clima)

Claudia Pfeiffer

   O Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC) foi criado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pela United Nations Environment Programme (UNEP) em 1988, com o objetivo de estudar e divulgar abertamente as informações técnicas e socioeconômicas e os impactos relevantes aos riscos à humanidade, visando criar mecanismos para a adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas globais. Esta é a informação que o leitor tem quando abre a página oficial do IPCC (http://www.ipcc.ch/organization/organization.shtml).

É importante destacar o fato de que o Painel não realiza pesquisas, o que ele faz é apresentar relatórios, de tempos em tempos, nos quais levanta aquilo que vem sendo pesquisado, compilando e sistematizando o conhecimento em torna da questão das mudanças climáticas.

Os relatórios apresentados pelo IPCC são exarados por um conjunto de cientistas reconhecidos na comunidade acadêmica que estariam legitimados como leitores dos trabalhos científicos realizados para se colocarem no papel de sintetizar as pesquisas sobre o tema.

Outro destaque importante de ser observado é o fato de que, apesar de ter sido criado em 1988, o IPCC só veio a ser publicamente conhecido, ou seja, as sociedades passaram a conhecer sua existência que era restrita ao conhecimento da comunidade científica, dos governos e da ONU, quando é publicado o quarto relatório do IPCC, em 2007.

Este período coincide com a divulgação de eventos extremos como o furacão Katrina nos Estados Unidos, as intensas ondas de calor na Europa, as inundações na China e o derretimento das geleiras do Monte Kilimanjaro que foram objeto de discussão no livro e no documentário “Uma verdade inconveniente” de Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA, lançados em 2006. Esta conjunção, mídia impressa e televisiva junto com o documentário e filme de Al Gore, contribui de modo muito forte para que as conclusões do quarto relatório do IPCC e, consequentemente, o próprio IPCC ganhassem visibilidade pública e passassem a ser objeto de notícias e discussões.

Neste quarto relatório, chama-se a atenção para estudos que indicam a possibilidade de um aumento médio global das temperaturas entre 1,8ºC e 4,0ºC até 2100. Aumento que poderá ser ainda maior (6,4ºC), segundo estes estudos, se a população e a economia continuarem crescendo rapidamente e se for mantido o consumo intenso dos combustíveis fósseis.

Para o IPCC, a estimativa mais confiável do conjunto de estudos levantados estaria em torno de um aumento médio de 3ºC, assumindo que os níveis de dióxido de carbono se estabilizem em 45% acima da taxa atual.

Para o IPCC, ainda, é possível considerar, com mais de 90% de confiabilidade, que a maior parte do aumento de temperatura observado nos últimos 50 anos foi provocada por atividades humanas.

Mais do que isso, este famoso quarto relatório, que inaugura a relação entre a sociedade e o tema das mudanças climáticas a partir de uma relação pública com a ciência, entende que a influência das atividades humanas no aquecimento ou no resfriamento do clima aumentou desde o último relatório, levando a uma certeza maior de que as atividades humanas, desde 1750, têm contribuído com o aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera.

Este quarto relatório indica que, apesar das incertezas científicas, os dados obtidos pelas pesquisas sobre o aumento das concentrações de gases de efeito estufa e seus consequentes efeitos estão mais bem sustentados em função de uma melhor medição por meio de satélites, estações de coletas de dados na superfície e um melhor conhecimento dos modelos.

As pesquisas compiladas indicam que, levando em conta a temperatura média global da superfície da Terra e dos oceanos no período desde 1850, os dez anos mais quentes da história estão no período de 1995 a 2006. A taxa de aumento entre 1850 e 1899 seria de 0,57ºC, enquanto que entre 2001 e 2005 essa taxa teria passado para 0,95ºC, correspondendo a um aumento médio no período de 0,76ºC.

Como estas pesquisas compiladas são interdisciplinares, os resultados indicam que as comunidades pobres podem ser especialmente vulneráveis, em particular aquelas concentradas em áreas de alto risco. Isso porque estas comunidades são mais dependentes dos recursos sensíveis ao clima, como a oferta local de água e alimento.

Os estudos do IPCC mostram que os lugares em que os eventos climáticos extremos se tornarem mais intensos e/ou mais frequentes, os custos econômicos e sociais desses eventos aumentarão e esses aumentos serão substanciais nas áreas afetadas mais diretamente.

Nesse sentidos, há um conjunto de estudos que confirmam que a África é um dos continentes mais vulneráveis à variabilidade e à mudança do clima, por causa das múltiplas tensões e da baixa capacidade de adaptação em função da dependência dos recursos sensíveis ao clima.

O IPCC indica ainda que essas mudanças poderão afetar o desenvolvimento sustentável da maior parte dos países em desenvolvimento da Ásia, uma vez que se somam às pressões sobre os recursos naturais e meio ambiente, associadas à rápida urbanização, industrialização e desenvolvimento econômico. A disponibilidade de água doce no centro, sul, leste e sudeste da Ásia, especialmente em grandes bacias de rios, poderá diminuir.

Com relação especificamente às projeções para o Brasil, o IPCC, neste quarto relatório inaugural, indica que as incertezas maiores eram relativas às chuvas, especialmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Na escala continental, em relação à precipitação, a região que apresenta maior confiança nas projeções de clima futuro para 2071-2100, nos estudos compilados em 2007, é a Nordeste. O semi-árido nordestino poderá, num clima mais quente no futuro, transformar-se em região árida. Isto poderia vir a afetar a agricultura de subsistência regional, obrigando as populações a migrarem, gerando ondas de “refugiados do clima”.

 

 

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