O muro é um objeto, uma construção urbana que separa um espaço de outro: separa a casa da rua ou do vizinho, cerca um terreno, uma escola. Os sentidos de muro variam conforme as posições dos sujeitos do discurso em determinadas circunstâncias: ele isola, protege, ou exclui, violenta?
No Brasil, as transformações urbanas das últimas décadas levaram a uma ampliação do uso de muros altos nas casas, devido ao medo de assaltos, à falta de segurança. Casas que antes tinham pequenas muretas baixas ou grades passaram a utilizar muros altos e porteiro eletrônico. Ruas inteiras operaram transformações desse tipo.
Com o aparecimento dos condomínios fechados, extensos e altos muros circundaram os loteamentos que abrigam residências de alto padrão. O uso desses muros, por vezes acompanhados de cercas elétricas, trouxe à tona novamente a noção de cidade medieval, visto que esta era murada para separar os moradores dos “inimigos”. Só que os muros dos condomínios se distinguem das muralhas medievais por cercarem apenas uma parte da cidade, fazendo com que os moradores mantenham uma distância simbólica (violência simbólica) da cidade, dos centros urbanos. No capitalismo, a circulação de mercadorias marca um mundo “sem fronteiras” entre cidades, mas pleno de outras fronteiras, como as da segregação social e espacial.
O outro lado da violência murada é o gesto do pichador, que assinala nos muros sua resistência aos sentidos da segregação social, da marginalização. “Marginal” ou ”sujeito comunitário”, aqui novamente os sentidos dividem a sociedade.
Os muros volta e meia são derrubados, como os da Guerra Fria e os do autoritarismo, tal como significado no disco (hoje cd e dvd) The Wall, do grupo de rock Pink Floyd. Mas às vezes eles permanecem como evidências naturalizadas, no esquecimento de que eles são “construídos por e para”.
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