A cidade e os sujeitos urbanos muitas vezes são significados pela falta: falta de trabalho (desempregado), falta de moradia (sem-teto), falta de lugar para morar ou plantar (sem-terra), etc. Algumas palavras-conceitos significam de modo mais amplo essas faltas, conferindo um estatuto teórico ao conjunto delas e buscando explicar os processos que levam a elas. O sociólogo e cientista político Lúcio Kowarick propõe chamar de espoliação urbana algumas faltas que incidem sobre os trabalhadores. A locução expoliação do trabalho já apontava algumas delas, decorrentes especificamente das condições de trabalho, mas Kowarick acrescenta a estas, algumas outras que afetam igualmente os sujeitos urbanos. Vejamos como o autor define esse conceito e apresenta algumas formas de sua manifestação:
“Trata-se de um conjunto de situações que pode ser denominado de espoliação urbana: é somatória de extorsões que se opera pela inexistência ou precariedade de serviços de consumo coletivo, que juntamente ao acesso à terra e à moradia apresentam-se como socialmente necessários para a reprodução dos trabalhadores e aguçam ainda mais a dilapidação decorrente da exploração do trabalho ou, o que é pior, da falta desta. Na Grande São Paulo, são inúmeras as manifestações dessa situação espoliativa, que vão desde as longas horas despendidas nos transportes coletivos até a precariedade de vida nas favelas, cortiços ou casas autoconstruídas em terrenos geralmente clandestinos e destituídos de benfeitorias básicas, isto para não falar da inexistência das áreas verdes, da falta de equipamentos culturais e de lazer, da poluição ambiental, da erosão e das ruas não pavimentadas e sem iluminação.” (KOWARICK, 2000, p.22)
É interessante notar a série de palavras que retomam o conceito signfiicando algum tipo de "falta": "extorsões", "inexistência", "precariedade", "dilapidação", "falta", "situação espoliativa", "despendidas", "destituídos", "sem iluminação".
Bibliografia
KOWARICK, Lúcio. Escritos Urbanos. São Paulo: Editora 34, 2000.