O internetês é um modo de escrita na internet que surge com a expansão da comunicação por email, mas, sobretudo, com as comunidades virtuais e redes sociais.
Se levarmos em conta as condições de produção que atravessam a língua e o sujeito em sua constituição na Internet diremos que, em sentido estrito, as condições de produção da própria máquina, com sua linguagem específica: a linguagem de programação e seus programas de decodificação de dados e tratamento de texto, fazem parte do sentido da língua no internetês. No sentido mais amplo das condições de produção, o internetês é já essa linguagem de programação produzindo outros sentidos no fluxo histórico. Produzindo sentidos para a própria língua a partir daquilo que escapa de sua sistematização.
Num primeiro momento, o internetês surge como um modo de otimização dos caracteres digitais. Para tanto, suprime-se acentos, cedilha, til, com o intuito de que esses caracteres possam ser compartilhados em ambientes digitais diferentes, de modo que não sejam desconfigurados (não reconhecidos) ao serem lidos por softwares e sistemas operacionais/plataformas diversos.
Uma das manifestações do internetês foi o uso do caractere “h” ao final de palavras com a última sílaba tônica acentuada. O h, nesses casos, prolonga e abre o som da sílaba, produzindo o efeito do acento agudo. Assim, café fica cafeh e assim por diante. Outros caracteres, pouco utilizados no português, como o k, w, y, passam a ser muito utilizados no espaço digital, como substitutos do qu, u, e i, respectivamente, de uso mais corrente na língua portuguesa. Isso ocorre por serem, os primeiros são caracteres bastante utilizados no inglês, a língua que predomina no espaço técnico (e político) da web e também, no caso da substituição do ‘qu’ pelo ‘k’, isso ocorre pela própria velocidade da rede e das tecnologias de comunicação, que impõem uma forma de textualização específica.
Mas essa invenção da escrita na internet está longe de ser apenas uma injunção técnica, ela diz respeito também à velocidade das redes, das relações. Na Internet, o espaço se configura pela temporalidade da escrita, o que a determina em sua forma abreviada, pela velocidade de suas condições de produção. Portanto, a escrita abreviada e acrônima é uma propriedade da velocidade do tempo de escritura naquele espaço discursivo que organiza e determina a relação entre o que é dito e o sentido que isso produz. Por isso, expressões como: kdvc, para dizer: “Onde está você?”, ‘alg’, para alguém, ‘tc’, para teclar, e ainda: ‘qdo’, para quando, ‘tb’, para também, ‘pq’, para os porquês, ‘q’, para que, ‘blz’, para beleza, ‘td’, para tudo, etc. Esse tipo de escrita abreviada desloca o sistema linguístico normativo, que passa a ser regulado por outros imaginários, reestruturando a língua em função de uma necessidade do espaço-tempo tecnológico. Cria-se, em função dessa prática da escrita, uma normatividade linguístico-tecnológica, configurada pela temporalidade como uma dimensão do espaço e pelo espaço como uma dimensão do discurso.