A noção de cidad-e (ou e-urbano) diz respeito a um modo de compreensão do espaço urbano a partir da discursividade do eletrônico. Essa noção foi formulada levando em conta o tripé espaço urbano, informação e tecnologia, e considera os processos de significação produzidos nessa relação. Buscando produzir elementos para refletir sobre a relação constitutiva entre o urbano e o eletrônico, cidad-e considera o espaço urbano em sua materialidade, processos de significação, considerando, portanto, o sujeito e os sentidos.
Como sabemos, um dos aspectos que diz respeito à evolução das cidades é o desenvolvimento tecnológico. A tecnologia é base da formação das cidades, no que diz respeito, por exemplo, aos aspectos topográficos, mas também no que diz respeito às relações sociais, ao espaço urbano. Hoje, as chamadas Novas Tecnologias de Comunicação e Informação são um elemento constitutivo do urbano no que se refere às relações sociais, políticas e administrativas desse espaço. Elas fazem parte do modo de circulação e experimentação do urbano. A forte presença do eletrônico no urbano, por meio das tecnologias digitais, ressignifica os sentidos da circulação e da experimentação nesse espaço. Modifica, também, sua paisagem. O ambiente cotidiano no qual circulamos é composto de dispositivos eletrônicos que se comunicam entre si e conectam os sujeitos uns com outros. Trata-se dos sistemas eletrônicos que estão em todas as partes. É o eletrônico determinando a relação do sujeito com o mundo, no mundo, no espaço urbano, já que esses instrumentos fazem parte da vida cotidiana por meio das práticas dos sujeitos: ir ao banco, fazer compras, ir ao cinema, ao museu, marcar encontros, mesmo se locomover na cidade utilizando aplicativos de trânsito, dentre tantas outras práticas cotidianas.
Na formulação de cidad-e, o eletrônico interessa muito além de sua forma empírica ou abstrata, os objetos em si, seu uso ou formas de acesso, ou ainda seu conceito, o eletrônico interessa na medida em que é considerado em sua materialidade, a saber, em suas condições de produção, historicidade, processo discursivo e ideológico a partir do qual o mundo contemporâneo produz sentidos, uma vez que os sujeitos, em todos os lugares, são afetados em sua constituição pelo sentido do eletrônico e dos dispositivos digitais.
Pensar a cidad-e é, pois, considerar o processo histórico e ideológico de significação da nossa sociedade contemporânea, o modo como estamos nela, como significamos os espaços e somos por eles significados, o modo como somos individuados pelo Estado na forma do discurso da tecnologia.
A noção de cidad-e busca levar em conta a constituição do espaço urbano pelo digital. Não toma a cidade e o espaço urbano como já significados pela tecnologia, mas os considera em seu movimento de significação pela tecnologia digital, naquilo que escapa a qualquer estabilização. No acontecimento da tecnologia no urbano.