O mundo visto da janela



O mundo visto da janela

Ariana da Rosa Silva[1]

 

Pessoas caminham para seus destinos

Voltando, cansadas, para casa,

Após um longo e exaustivo dia de trabalho.

Ou talvez, quem sabe, em busca de desatinos

A serem cometidos

Durante a infinita noite que se inicia...

 

Quem sabe até

Caminhem pelas ruas da cidade iluminada

Observando a luz refletida

Nos coqueiros da calçada

Sem qualquer intenção planejada...

 

Da minha janela vejo pessoas

Que se atropelam pela pressa

De sabe-se lá o quê!!

Encontrar a namorada...

Assistir ao final de uma novela banalizada...

Ver o seu time jogar pela tv.

Pressa de quê?

 

Correm para não perder a condução,

Ou para fugir do ladrão.

Ah, sim!! Tão comum nos dias de hoje!

 

Para não se atrasarem no trabalho, por que não?

Hospitais, escolas, comércios...

Ônibus, metrô e avião.

O mundo não para, o tempo não para, a vida não para.

 

Pessoas caminham pelas ruas da cidade

Com tanta pressa e distração

Que não percebem que em sua volta

Existe um mundo que transborda

De beleza e ansiedade

À espera de um coração

Que aproveite cada momento

E cada passo de seu caminho,

Que não se perca com o vento,

Em uma vida mesquinha

De coisas banais e de tormento.

 

O mundo anseia por vidas vívidas,

E não pessoas pífias,

Caminhando todos os dias

Com os mesmos objetivos

De manter o capitalismo.

 

Onde está o romantismo?

Onde está o prazer de viver?

 

As pessoas só olham para frente,

Com o foco definido

Ou com o olhar perdido

Sem vontade de vencer.

 

É preciso deixar-se levar pelo céu estrelado

Sentir o arrepio trazido pelo ar que passa gelado

Nesta noite fria de maio.

 

É preciso olhar para os lados,

Olhar nos olhos e sentir a presença das almas.

 

É preciso sentir o perfume

Exalado pelas flores

Dos jardins bem cuidados das casas da cidade iluminada.

 

É preciso viver com toda nossa vontade...

A vida. Ah, a vida!!!

Ela passa num instante.

 

Quando a nossa luz se apagar

E nosso olhar, enfim, se fechar

Não teremos outra oportunidade

De aproveitar.

 

Então, vá agora!

Vá deliciar-se com a maravilhosa vida que Deus lhe deu!

E não se esqueça, meu amigo:

O mundo não para, o tempo não para,

A vida não para.

Por isso, reinvente os sentimentos e os momentos

Reinvente a vida.

Reinvente-se e viva!




O movimento do silêncio e das vozes

Ariana da Rosa Silva

 

Ir e vir.

O fluxo intenso do trânsito:

Carros, ônibus, motos, pedestres

Que transitam pelo mesmo caminho.

É um ir e vir constantemente inconstante

De respiração ofegante

Da agitação inquietante

Que acelera corações de quem caminha sozinho

Que mesmo em companhia, sente-se fora do ninho

Nos seus pensamentos, sentimentos

Que trazem insanidades e tormentos

Diante de um mundo em trânsito.

 

Então, neste momento,

Parece que tudo na cidade

É feito de movimento.

 

Silenciando as almas

Que vivem ali dentro.




Sobre a autora e sua obra.

Sou graduada em Letras (português/literatura) (UNESA), especialista em Leitura e Produção Textual (UNESA), mestra (UFF) e doutoranda em Estudos de Linguagem (UFF). Desenvolvo pesquisa no âmbito dos estudos discursivos, filiada à Análise do Discurso de Michel Pêcheux, sobre discurso político, mídia, sujeito. Além disso, sou professora da Rede Estadual do Rio de Janeiro e também da Rede Privada de Ensino, lecionando para Ensino Fundamental e Médio.

A linguagem e a poesia sempre foram minhas paixões. Ler e escrever poesia é uma forma de pensar sobre a vida de forma lúdica, de significar o mundo que nos cerca e de nos significar no mundo. Os poemas “O mundo visto da janela” e “O movimento do silêncio e das vozes”, deixam ver os sujeitos que estão imersos nesta sociedade contemporânea. Esses sujeitos investem seu tempo quase exclusivamente em favor dos interesses do mercado e do capitalismo e se esquecem de viver. Estamos todos inseridos nesta condição, em uma sociedade acelerada e conturbada, e o que se vê, de qualquer janela, são pessoas que atropelam seus sonhos em troca de sobrevivência, assim, suas vozes são caladas e o que se ouve é o silêncio da vida. Talvez, com esses poemas, eu consiga despertar alguém de volta para o mundo dos sonhos e das possibilidades que a vida oferece, pois como nos disse Cecília Meireles: “A vida só é possível reinventada”.

 

[1] Ariana da Rosa Silva, Doutoranda em Estudos de Linguagem- Universidade Federal Fluminense. E-mail: arianarosa86@gmail.com. Orcid:  https://orcid.org/0000-0003-4170-2466




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