O sujeito idoso gay no Instagram: Imagens e dizeres em circulação


resumo resumo

Cleyton Antônio da Costa



Considerações Iniciais

No presente artigo, tem-se por objetivo analisar as produções discursivas a partir de um perfil de um sujeito idoso gay na rede social on-line, o Instagram, entendendo que as formas de se dizer do sujeito idoso gay, por meio de enunciados e imagens, permitem a produção e a circulação de outros sentidos. Diante disso, vale ressaltar que, filiado ao dispositivo teórico-analítico da Análise de Discurso, a partir das elaborações de Michel Pêcheux, na França, e de Eni Orlandi, no Brasil, compreende que a linguagem é passível de rupturas e brechas, pelas quais os sentidos transbordam. Nas palavras de Orlandi (2012), a Análise de Discurso é uma disciplina que “vem ocupar o lugar dessa necessidade teórica, trabalhando a opacidade do texto e vendo nesta opacidade a presença do político, do simbólico, o próprio fato do funcionamento da linguagem: a inscrição da língua na história para que ela signifique” (Orlandi, 2012, p. 21).

Na busca por analisar os discursos sobre e do sujeito idoso gay, no espaço digital, é pertinente conhecermos o campo teórico em que se dará a sustentação desse estudo - a Análise de Discurso –, no qual buscamos nos ancorar para, assim, assimilarmos o funcionamento da linguagem na sociedade e na história, através da descrição e da interpretação do discurso e dos efeitos de sentidos entre os locutores.

O sujeito idoso gay, ao longo da história, foi invisibilizado e marginalizado, ou seja, há um conjunto de dizeres tidos como dominantes, que arquitetam esse processo de significação dos sujeitos idosos. Essa dinâmica social, regida por relações complexas que se articulam para com os idosos gays, foi se modificando com a atuação dos movimentos gays que se organizaram, marcaram e marcam a presença e, sobretudo, a resistência na sociedade contemporânea. Levando isso em consideração, dialogamos com Pêcheux ao apontar que as resistências podem se constituir como:

 

não entender ou entender errado, não “escutar” as ordens, não repetir as litanias ou entender de modo errôneo, falar quando se exige silêncio, falar sua língua como uma língua estrangeira que se domina mal; mudar, desviar, alterar o sentido das palavras e das frases, tomar os enunciados ao pé da letra, deslocar as regras na sintaxe e desestruturar o léxico jogando com as palavras. E assim começar a se despedir do sentido que reproduz o discurso da dominação, de modo que o irrealizado advenha formando sentido do interior do sem-sentido. E através destas quebras de rituais, destas transgressões de fronteiras: o frágil questionamento de uma ordem, a partir da qual o lapso pode tornar-se discurso de rebelião, o ato falho de motim e de insurreição; o momento imprevisível em que uma série heterogênea de efeitos individuais entra em ressonância e produz um acontecimento histórico, rompendo o círculo da repetição (Pêcheux, 1990, p. 17).

 

Materializando um movimento outro, que transpassa a já dada perspectiva, o sujeito idoso gay irrompe e formula novos dizeres sobre si, até então silenciados. Isso é evidenciado com o estudo de Soares (2016), ao analisar, na imprensa, revistas semanais do período de 1985 a 1990 e ao buscar compreender como se constitui o imaginário sobre a homossexualidade e a AIDS. Segundo o autor:

 

os homossexuais apenas ocupavam o espaço da terceira pessoa: falava-se deles. Quem eram, como eram, o que faziam e por que faziam. E falava-se com tanta veemência que os sentidos se apresentavam fixos, como se colados nas palavras. E talvez assim o fosse em virtude dos homossexuais não ocuparem uma posição-sujeito para que pudessem falar-se e, portanto, fazer outros sentidos (Soares, 2016, p.11).

 

Com isso, observamos que a produção de dizeres sobre o sujeito gay foi formulando e cristalizando certos estereótipos. Há um movimento de formular discursos sobre o sujeito gay e a sua produção de sentidos, que, devido à intensa prática de certos dizeres em circulação, conduziram a uma organização social pautada em uma hierarquização daqueles que formulam (instituições que regulam a sociedade) para esse grupo. Assim sendo, juntamente com tal contexto, uma formulação de dizeres, que abarcam a inferiorização dada pela orientação sexual e que são reforçados pela condição etária, se desdobrará.

Os sujeitos gays, que outrora eram mais preponderantemente falados, ou seja, por falarem deles e sobre eles, como traz Soares (2016), não tinham um espaço institucional de grande abrangência que lhes permitisse e falar de si; todavia, com o advento da tecnologia, eles passaram a ter acesso a outras ferramentas que lhes foram oportunizadas.

Ainda se mantém a produção dos discursos sobre, a partir de diferentes posições e lugares que até então engendram uma dinâmica de acuamento; porém, nosso foco consiste em ressaltar que a tecnologia digital proporcionou, àqueles que puderam alcançar esse universo digital, uma divulgação mais ampla da materialização da resistência, ou seja, a resposta àqueles discursos, visto que, antigamente, circulavam em espaços reduzidos. E assim, aos poucos foram ocupando o espaço digital, rompendo e ressignificando já-ditos, e construindo, dessa maneira, um percurso que lhes possibilita produzir suas considerações e seus posicionamentos, elaborando outros sentidos antagônicos àqueles formulados ao longo de um tempo, por um certo discurso dominante, em que não tinham espaço efetivo para se manifestarem. Aos poucos, os sujeitos gays idosos vão ocupando esse espaço e que, usualmente, se associa aos jovens.

À vista disso, o espaço digital proporciona a ocupação de um lugar que nem era pensado e imaginado de ser ocupado, dada a sua força e a sua presença na sociedade. Um espaço da pluralidade, em que aqueles que têm acesso à Internet possuem o “poder” e a possibilidade de se manifestarem.

Dias (2016) desenvolve a questão da conectividade ao discorrer sobre esse movimento de estar “conectado”, em que se inscreve uma hierarquização social e econômica para aquele que está e não está conectado, como uma materialização do poder e/ou, ainda, uma inscrição social que demarca um sobressalto em relação aos demais.

A sociedade e a tecnologia digital se articulam em uma relação que só se intensifica, e, com isso, os modos de vida atravessam o cenário digital. Ademais,

 

o discurso da tecnologia em geral, produz, portanto, efeitos na maneira como o digital se materializa na sociedade, discursivamente, como uma das peças importantes do modo de organização da vida em seu conjunto, na formação social capitalista, e do modo de individualização do sujeito pela conectividade como “autentificadora” de entrada desse sujeito no mundo “civilizado” da ciência da tecnologia (Dias, 2016, p. 298).

 

Constitui-se um tecido digital que opera uma força social para aquele que está realmente conectado, oportunizando a possibilidade de “ter voz e vez”. O digital, assim, marca ao sujeito o espaço de ver e ser visto, um espaço determinado pela visibilidade e funcionalidade daqueles que têm a oportunidade de estar conectado.

Diante disso, sujeitos e vivências que, historicamente, foram anulados e silenciados, podem, com as redes sociais digitais, ter a chance de se presenciarem socialmente, rompendo uma crosta opressiva de silenciamento.

Conforme Delarbre,

 

essa abertura propiciou, e permitiu até agora, que se propague uma gama de «cidadanias» do universo das redes. Além de inclusões nacionais, institucionais, ou até mesmo políticas ou gremiais, mas sem prescindir delas, os usuários da Internet navegam, divagam, encontram e, à vezes, debatem, compartilham e socializam com tanta assiduidade e de maneira tão notória que as redes informáticas já são reconhecidas como parte do espaço público contemporâneo (Delarbre, 2009, p. 74).

 

Em suma, ocupar o espaço público contemporâneo se alicerça no interagir, no ocupar de forma ativa, no compartilhar fotos e links, no atribuir likes naquilo que gostou, firmando, desse jeito, uma inscrição ou produzindo o movimento contrário agenciado pela não filiação. Conjuntamente, há a possibilidade do gesto de ocupar pela produção de conteúdo em diferentes plataformas, inscrevendo-se nesse espaço e gerenciando a escritura de si, como em blogs, vlogs e canais na plataforma do YouTube.

 

Sujeito e Sentido: o idoso gay no Instagram

Para a análise, elencamos o perfil intitulado “@topassado_”1, da rede social digital Instagram, o qual é gerenciado pelo militante Luis Baron, que apoia e atua na ONG “EternamenteSou”, por meio de atividades voltadas à população idosa LGBT.

Com relação à mídia supramencionada, temos que:

 

o Instagram foi criado por Kevin Systrom e pelo brasileiro Mike Krieger em 2010. Poucos meses depois, a rede social se tornou um dos aplicativos mais promissores da App Store.

Em apenas um ano, o Instagram já contava com dez milhões de usuários, sendo que o serviço estava disponível apenas para proprietários de iPhones e iPads. Em 2012, o Facebook comprou o Instagram por cerca de 1 bilhão de dólares, no mesmo ano em que a rede social foi disponibilizada para dispositivos Android.

A rede social permite o compartilhamento de fotos e vídeos, bem como a integração com outros aplicativos. Entre as suas funcionalidades estão a aplicação de filtros, o Boomerang, os Stories, além das gravações e transmissões de vídeos ao vivo. Atualmente, o Instagram também é um dos principais veículos para a publicidade de empresas de todo o mundo2.

 

Em uma década de existência, o Instagram tornou-se uma das redes sociais mais utilizadas. Isto marca a formulação da inscrição dos sujeitos nesse território digital, dada por sua formulação até chegar ao sistema operacional Android, que foi projetado para dispositivos móveis contendo uma tela sensível ao toque, dando oportunidade de manipular os apps e o teclado virtual. Vemos que, na palma da mão, encontra-se esse instrumento móvel de comunicação, que se disseminou pela sociedade contemporânea.

E atrelado a essas inovações está o aplicativo Instagram. Luz (2015) afirma que

 

O aplicativo, além de gratuito, tem boa acessibilidade. Nele podemos capturar e editar as fotos instantaneamente, daí sua logomarca ser a imagem da antiga máquina Polaroid, que imprimia as fotos logo após sua captura, além do aspecto retrô que o enquadrado [sic] e os filtros imprimem nas imagens. Enquanto rede social, o aplicativo também oferece a opção de, depois de editada a imagem, podermos compartilhá-la, curti-la, comentá-la com nossos amigos, além de “segui-los” em seus compartilhamentos de imagens (Luz, 2015, p. 26).

 

Construiu-se uma marca usando a estética de uma máquina portátil que permitia, para aquele que a usava, ter mobilidade diante da leveza. Inscrita na história da fotografia, a Polaroid revolucionou o modo de fotografar, quesito incorporado pelos criadores do app3 Instagram e que dá novos sentidos para aquela memória do ato de registrar imagens, mediante a produção do registro instantâneo.

Com concepção reformulada na estrutura digital, o Instagram usou aquilo que popularizou como símbolo de sua inscrição e utilização pelos usuários dos dispositivos tecnológicos digitais. Aquilo que foi antes não é mais, porém outros efeitos de sentidos poderiam ser engendrados nesse app, que se sustenta pelo uso da imagem.

 

É sob a promessa de captura e compartilhamento de momentos do mundo, que versa o Instagram, em um trânsito intenso entre o singular e o banal — ou entre a singularização do banal e banalização do singular, como bem pretender o autor de cada perfil dessa rede. Ao usuário do aplicativo fica a escolha do conceito que desejar aplicar à sua rede social, personalizando e explorando sua textualidade, enquanto autor não só de textos, mas de si mesmo. Inicialmente, como esclareceram os criadores do Instagram, a intenção era resgatar a instantaneidade das clássicas Polaroids, possibilitando a captura de imagens e seu trato com diferentes filtros. Mas essa ideia foi expandida e ganhou vigor com os compartilhamentos e a formação de uma rede social (Ramos; Martins, 2018, p. 120).

 

Compreendemos que o Instagram não se reduz ao banal do cotidiano, mas se formula como um instrumento digital que oportuniza a produção de efeitos de sentidos para aquele que posta em seu perfil e para aquele que visualiza, comenta e curte.

Com isso, selecionamos o perfil @topassado_, que marca a presença do idoso gay no espaço digital.

 

Imagem 01 – Captura de tela do perfil @topassado_ no Instagram.

Disponível em: https://instagram.com/topassado_?igshid=xop47aa130qg. Acesso em: 02 maio 2020.

 

Atentos à busca de desarticular o movimento de apagamento, de silenciamento, que foi operado ao longo da história, é que pensamos a utilização de instrumentos que oportunizam que outros dizeres possam circular e significar. Coloco aqui propagadores das vivências, das dificuldades, ou seja, das dores e delícias em ser idoso e gay, indo contra aquilo que foi construído como desviante e errante. Trazemos aqui, como referência desse movimento, o jornal “Lampião da Esquina”, que mobilizou outras formas de significar o sujeito gay durante a Ditadura Militar.

Diante da presença do digital, outras formas de produção de dizeres sobre e do idoso gay podem circular e possibilitarem a formulação de outras significações, que não se reduzem às imagens que foram cristalizadas. Outras formulações são possíveis, realizando um movimento nos sentidos, em que aquelas imagens tidas como cristalizadas, estabelecidas, vão se alterando, dando espaço para outras perspectivas ainda não vistas. Esse movimento não é algo simples, é constituído numa luta de romper com aquilo que é tido como dado, como evidente, que compreendemos como um processo lento, entrelaçado pela busca de direitos e na reconfiguração do apanágio depreciativo construído para o sujeito gay. E aí concordamos com Paoli (1992, p. 27), que afirma que “a construção de um outro horizonte historiográfico se apoia na possibilidade de recriar a memória dos que perderam não só o poder, mas também a visibilidade de suas ações, resistências e projetos”.

Dialogando com esse aporte teórico, em que Paoli (1992) desenvolve o direito à memória em suas reflexões, defendemos as possibilidades de que discursos que foram reduzidos, inferiorizados, possam ser iluminados e iluminar a propagação de dizeres que oportunizem a significação dos sujeitos idosos gays. Desse modo, acreditamos que as redes sociais permitem a constituição deste “outro horizonte”, em que dizeres antes não ouvidos, não aceitos, possam circular e efetivar a construção de sociabilidades, de vivências regidas pelo respeito e empatia. Direito à memória, direito de exporem suas formas de ver o mundo e de significá-lo, bem como de combaterem toda prática preconceituosa que ainda persiste em existir.

Sobre o perfil colocando em análise, ele contava com 358 publicações e 790 seguidores, em 30 de setembro de 2020, tendo sua primeira publicação realizada em 28 de junho de 2019. O nome do perfil @topassado_ nos conduz a diferentes sentidos e, primeiramente, nos procedimentos teórico-metodológicos, tomamos como norte a questão da subjetividade, sobre a qual Orlandi coloca que

 

pensando-se a subjetividade, podemos então observar os sentidos possíveis que estão em jogo em uma posição-sujeito dada. Isso porque, como sabemos, o sujeito, na AD, é posição entre outras, subjetivando-se na medida mesmo em que se projeta de sua situação (lugar) no mundo para sua posição no discurso (Orlandi, 2012, p. 99).

 

O sujeito, ao produzir um nome para um perfil, que não apenas seja atrelado a si mesmo, com foco, mobiliza movimentos como conscientização acerca da velhice gay e projeta inquietações contundentes.

Desse modo, um perfil, em uma rede social tão usada, que se sustenta no nome “topassado”, leva-nos a problematizar dimensões que perpassam tão somente perguntar sobre quem é o sujeito que mantém tal conta. Aqui nos deparamos com um movimento polissêmico, que não se restringe a uma significação somente, única, mas que movimenta a memória, em que os dizeres funcionam para significar e serem significados em diferentes direções.

 

Entre imagens e dizeres: o Instagram mobiliza novos/diferentes sentidos

A postagem de 17 de julho de 2019 evoca a questão do relacionamento, do estar junto, marcando uma disposição imagética que funciona na produção de sentidos afetados pela temporalidade.

 

Imagem 02 – Postagem de um casal que recriou foto de 25 anos atrás.

Disponível em: https://www.instagram.com/p/B0CBeMNhp75/?igshid=1x12to8de38gr.
Acesso em: 06 maio 2020.

 

Duas fotografias que juntas tecem uma só. A junção do ontem, do vivido, do passado, com o hoje, o pulsante, o frescor, o calor do momento.

Souza oportuniza, em seus estudos, a relação entre discurso e imagem, atestando que

 

ler uma imagem, portanto, é diferente de ler a palavra: a imagem significa não fala, e vale enquanto imagem que é. Entender a imagem como discurso, por sua vez, é atribuir-lhe um sentido do ponto de vista social e ideológico, e não proceder à descrição (ou segmentação) dos seus elementos visuais (Souza, 2001, p. 74).

 

Com a legenda: “Casal recria foto de 25 anos atrás”, aqui o enunciado opera como um descritor da postagem, funcionando como uma condensação dos sentidos que são produzidos. Uma legenda não estanca os sentidos, apenas direciona os sentidos.

Ao enunciar que um casal recria uma foto, algumas indagações devem ser abordadas. Assim questionamos: Como significa tal registro realizado? As posições da foto “antiga”, ao se repetirem na foto atual, nova, levam à quais sentidos possíveis?

Kossoy colabora com essas indagações ao abordar que “toda fotografia é um resíduo do passado. Um artefato que contém em si um fragmento determinado da realidade registrado fotograficamente” (Kossoy, 2001, p. 45). O ato de registrar, fotografar, evoca que tal situação provocou alguma relação com o sujeito que a fotografou, dando a importância de ser registrado. Registrar algo conduz àquele momento, em que aquela situação engendrada deve ser lembrada, mantida para esquivar-se do esquecimento e/ou apagamento.

Um casal gay, há 25 anos, faz um registro do relacionamento, do estar juntos. O contexto sócio-histórico daquele momento era permeado por outras formas de lidar com um casal homossexual no âmbito público. E hoje lidar com um casal gay idoso também abarca diferentes questões, pois são momentos diferentes, mas que são também regidos por tensões, conflitos, angústias. O congelar da imagem fotografada permite que aquelas vivências possam ser lembradas e/ou (re)significadas diante da relação dada ao passado.

A disposição dos corpos, o beijo, os óculos, a alça da mochila, a barba, são componentes que se mantêm, que constroem a conexão daquela imagem com a atual, funcionam como marcas reguladoras na busca da evocação de uma memória discursiva, em que o já-visto norteia a produção imagética da recriação. Aquilo que foi fotografado produz diferentes efeitos de sentidos da permanência do casal em seu relacionamento.

As imagens capturaram diferentes momentos de vida do casal. Momentos históricos divergentes, antagônicos, do iniciar de uma relação até a permanência dela na velhice. Isso faz com que se instaure um ritual, a manutenção de uma composição em que opera o passado e o presente, significado na repetição dos elementos que compõem as fotografias. No “recriar” funcionam outras condições de produção de sentidos, de imagens em relação.

Antes, o registro de um início ou celebração de dois jovens gays e agora é marcado que tal imagem de antes é o coroamento da relação, validando sua “recriação”, sua atualização, sua formulação.

Corpos significam essa memória, daquilo que foram e os afeta, nos dias de hoje, ao remontar tal cena registrada. Elementos como o beijo pode ser um “operador discursivo”, conforme Souza (2001, p. 74) nos aponta. O sujeito de barba levanta a cabeça para efetivar o beijo na bochecha do companheiro, que se posiciona frente à câmera, como um confronto. O que dá o beijo está de olhos entreabertos, não vê direito para onde vai, de modo que o que ocorre é que, ao mesmo tempo, o outro está de óculos escuros, que recebe o beijo, sorri, sem mostrar os dentes. O fato de que os olhos não são vistos pode impossibilitar a afirmação de que caminho tomará, qual percurso se realizará.

O beijo no rosto opera com o efeito de proximidade, de intimidade, de relacionamento. O beijo efetiva tal aproximação e aquele que dá o beijo é movido pela emoção, enquanto o outro é aquele que certifica a trajetória a ser percorrida juntos.

Também traz o carinho, o afeto, o cuidado, a chegada, a despedida e aqui a permanência desses componentes, que tecem a vida do casal desde o início do relacionamento, com as dificuldades e alegrias, até os dias de hoje, envoltos por certo imaginário atrelado à velhice.

O repetir tal ato marca a importância desse para a comunidade LGBT, na busca de quebrar o imaginário de que não há afetividade, sexualidade ativa na velhice. As imagens discursivizam a permanência dos elementos que nutrem um relacionamento e não será a idade o obstáculo, o empecilho.

As duas imagens colocadas lado-a-lado operam, discursivamente, produzindo o efeito de sentido de permanência, continuidade, regularidade. Há um gesto de se manter algo que, ao mesmo tempo, evoca dizeres que levam os sujeitos a se filiarem a dizeres não dominantes, visto que, historicamente, a união gay é tida como pecado, nefasta, entre outros, mas pondera na questão de um relacionamento de um casal de gays idosos.

Ao postar, efeitos de sentidos são produzidos. O administrador do perfil é afetado e o seguidor também quando curte, comenta, compartilha. Sujeitos e sentidos são constituídos oportunizando a produção de dizeres que evocam os movimentos na história, em que antes o “ser gay” e ter um relacionamento público imbricava em vários desafios e problemáticas, conduzindo para o hoje, em que ser gay e ser idoso condensa diferentes dilemas impostos pela própria “comunidade” gay em relação à velhice. Ao nos depararmos com esse imaginário que se impõe, não se moldando nessa imagem produzida por outros sujeitos, podemos notar a oportunidade de formular outros sentidos para o sujeito idoso gay e, também, na produção de formulações que ampliem as formas de ver os relacionamentos gays na velhice.

Relacionamos isso com os dizeres presentes nas hashtags, as quais estão na imagem a seguir.

 

Imagem 03 – Recorte da postagem do perfil @topassado_

Disponível em: https://www.instagram.com/p/B0CBeMNhp75/?igshid=1x12to8de38gr.

Acesso em: 06 maio 2020.

 

A produção desses dizeres norteia a atualização de uma memória discursiva, em que o formular visa a materialização da presença dos idosos gays e suas práticas no espaço digital.

Um já-dito opera significando que os idosos não fazem sexo, não têm sexualidade ativa, que a manutenção de um relacionamento homoafetivo entre dois idosos não é possível, mas esse já-dito é reformulado, é desarticulado. Pelo fato de vermos novos dizeres, que materializam as práticas dos sujeitos gays idosos ocupando cada vez mais diferentes espaços, oportunizando, assim, a produção do acontecimento discursivo, em que memória e atualização se encontram, e dinamizam as formas de enunciar, que outrora não eram possíveis publicamente, diante das determinações sócio-históricas. Como a história se movimenta, os sujeitos se articulam e produzem a resistência de não seguir os já-ditos impeditivos e, assim, buscarem a sua presença na sociedade, rompendo com as práticas preconceituosas.

Ao usar a hashtag nota-se o funcionamento de colocar em destaque os enunciados que permeiam a vivência dos sujeitos idosos, que muitas vezes não é colocado em público. Aqui, compreendemos essa produção de dizeres como uma forma de resistir e existir, quebrando os preceitos dados aos sujeitos na velhice, que já discutimos ao longo deste estudo.

Ao discutir acerca do uso da hashtag, Sousa e Garcia (2017, p. 24) apontam que “o uso das hashtags permite que outros usuários cliquem nas hashtags ou as busquem nos mecanismos de busca, para ter acesso a mensagens, fotos e publicações que participam da discussão de um tópico nas redes sociais”.

Dessa maneira, ocorre o funcionamento das hashtags marcando a produção de enunciados que mobilizam os sentidos acerca do relacionamento do sujeito idoso gay e sua constituição como sujeito no espaço digital.

Os dois primeiros se enunciados sustentam a partir dos sentidos do sentimento de amor, sendo esse aquilo que emerge de um relacionamento, mas, ao trazer #amorlongevogay, #amormadurogay, são mobilizados outros sentidos não vislumbrados pela maioria da sociedade, diante dos pressupostos traçados, em que a formulação de dizeres marcam esses sujeitos que pretendem não ficar mais sob o efeito do silenciamento, da marginalização, do preconceito, instaurando um outro movimento, o dos enunciados marcados pelas hashtags e que não visam esquivar ou anular quem são esses sujeitos. Ao produzir, postar e fazer circular pelo compartilhamento, esses enunciados proporcionam a possibilidade de novos olhares para os sujeitos idosos gays, para eles mesmos e em relação à sociedade, não se deixando à parte dela, somente interagindo socialmente na busca de respeito e dignidade.

Não estamos romantizando tal produção, temos ciência das adversidades que os sujeitos idosos gays enfrentam em diferentes instâncias, desde o pessoal, o íntimo, até o jurídico. O uso das hashtags funciona como um processo de alteração dos mecanismos dos processos de significação. Se há enunciados, há sujeitos se inscrevendo, se constituindo nesta luta de que suas memórias e vivências possam ocupar diferentes espaços, como o digital.

 

Corpos expostos, discursos em movimento

Ao percorrer a timeline do perfil do @topassado, deparamo-nos com uma postagem de 10 de outubro de 2019, que se estrutura na significação do corpo do idoso gay.

 

Imagem 04 – Captura de tela de postagem sobre o corpo no perfil @topassado_.

Disponível em: https://www.instagram.com/p/B0CBeMNhp75/?igshid=1x12to8de38gr.
Acesso em: 01 ago. 2020.

 

Na imagem postada, observamos a presença de sete homens vestindo roupas íntimas, posando para a lente de um fotógrafo. Não é mencionado para qual fim foi produzida a imagem, podendo ser uma peça publicitária, uma ação de conscientização, ou seja, o objetivo para tal fim não é posto em funcionamento. Mas, ao ser postada no perfil do Instagram, é acionada uma memória em relação ao corpo, juntamente com a legenda engendrada e que sustenta a imagem. Nesse sentido, perguntamos: Qual corpo é ideal? Há um corpo ideal?

São sete homens que apresentam biotipos diferentes, porém notamos que há um predomínio do corpo branco cis, determinada pela produção de sentidos de delimitar quais corpos devem ser vistos, admirados ou publicizados.

Compreendemos que há uma diversidade segmentada, em que todos não se veem nessa imagem, isto é, mesmo a “diversidade” do corpo aqui é restrita. Corpos que, ao longo da história, foram afetados pelo imaginário e que se articulam na conjugação em que os sentidos de força, de virilidade, entrelaçam-se com os de estético, de perfeição. Vemos que o corpo masculino é atravessado pela construção de um imaginário social, o qual ele deve representar (forte, másculo, atlético) para possibilitar ser desejado. Assim, aquele corpo que não compactua com esses ditames é negado, rejeitado.

Orlandi, ao discutir a questão do corpo, afirma que

 

Como sabemos nem os sujeitos, nem os corpos, pensando-se a significação, são evidentes. Ainda é sempre a opacidade, a não transparência da linguagem, que se apresenta quando pensamos discursivamente. O corpo da linguagem e o corpo do sujeito não são transparentes. São atravessados de discursividade, efeitos de sentidos constituídos pelo confronto do simbólico com o político em um processo de memória que tem sua forma e funciona ideologicamente (Orlandi, 2016, p. 92).

 

Sustentados por uma memória para o corpo masculino, que foi sendo elaborada a partir das demandas impostas pela sociedade, como a manutenção da família, a defesa do estado, a gestão de um corpo saudável e forte, entrelaçaram-se dizeres voltados para a “lapidação” de um corpo visto como o referencial para o homem na sociedade.

O imaginário, assim, repousa num campo de projeção que, ao longo do tempo, foi sendo construído por discursos que atravessaram o corpo, norteando processos de significação e gerando parâmetros para a estruturação de um corpo tido como ideal.

A legenda formulada se articula com a imagem postada, formando, assim, uma rede de sentidos operada na produção de outros olhares em relação ao corpo. O gesto de trazer que “Corpos reais são bem legais...!!!” aponta para o debate em relação ao corpo real versus o corpo ideal, sustentado pela realidade que se pontua na existência de múltiplos tipos de corpos, com suas marcas, cicatrizes, tons de pele, impossibilidades, presentificação da magreza, da obesidade, funcionando como um suporte em que opera o processo significação ao sujeito. Dessa forma, a partir do biotipo que cada corpo possui/sustenta, o sujeito será qualificado, significado.

Corpo e sujeito se articulam num processo, na atualidade, em que o sujeito é pautado pelo corpo que sustenta, visto que o corpo pode ser modificado por cirurgias, dietas, exercícios, usos de acessórios, que proporcionam a adequação daquilo que é arquitetado como o ideal. O corpo é passível de mudanças, de modo que o corpo real é problematizado e posto em situação específica a fim de sofrer modificação para a construção de um corpo idealizado.

Ao categorizar que os corpos reais são bem legais, são produzidos dizeres que acionam um movimento de confronto com outras formações discursivas.

Nesse sentido, formulamos uma paráfrase em que se pode ter a sequência “os corpos ideias não são legais”, que desloca uma formulação em que o corpo é produzido por um imaginário, que circula ao longo do tempo, como pautado na busca de algo que se deseja ser apoiado por uma perspectiva ilusória daquilo que supostamente almeja. Essa ilusão é permeada por diferentes instâncias, como cirúrgicas, inserção de próteses, dietas, exercícios físicos, ou seja, a produção de sentidos de efeitos regidos pelo estético e pela beleza artificial.

Ao produzir tal sequência o sujeito se inscreverá em uma filiação que não é afetada por essa projeção corporal, mas entendendo seu corpo e suas características, como aquele que deve ser respeitado, formulando para si outras formas de se ver, não apenas pautadas no corpo como a única possibilidade de agenciar a vivência social.

Compreendemos, também, a legenda como uma formulação que visa descrever/criticar a imagem. Existe uma relação entre imagem e legenda ao formular tais dizeres, em que os sentidos para a leitura da imagem são norteados por/para aquilo que o sujeito que posta e alinhado/determinado por aquilo que ele pensa.

Diante disso, compreendemos que o que é mobilizado entre imagem e legenda se arquiteta na crítica acerca do corpo. O sujeito, ao chegar na velhice, depara-se com as transformações estruturais no corpo, perspectiva naturalmente presente para todos, mas vemos que para o sujeito gay esse panorama pode ser visto com uma problemática mais acentuada diante da valorização que é dada ao corpo ao longo de sua vida.

Simões, em seu estudo intitulado “Corpo e sexualidade nas experiências de envelhecimento de homens gays em São Paulo”, entrevistou sujeitos idosos gays, visando buscar as concepções e atitudes relativas a corpo e sexualidade nas vivências de envelhecimento.

 

Os sinais de envelhecimento corporal são meticulosamente investigados, reconhecidos e elaborados. Todos se assumem como vaidosos, ainda que com modulações e matizes. Rugas, queda de cabelos, bolsas nos olhos, flacidez nos membros, gordura, barriga, nádegas murchas, dificuldades de manter ereção são todos motivos de lamento, preocupação, alguma depressão, mas não conformismo. A tendência é que busquem caminhos para reverter ou amenizar o que é visto como prejuízo estético decorrente do envelhecimento. Os entrevistados afirmam recorrer a tecnologias de manutenção corporal e a profissionais especializados sempre que possível. Embora expressem também limites nisso: cirurgias plásticas para eliminar bolsas de gordura nos olhos, por exemplo, são aceitas e recomendadas, mas há resistência a intervenções estéticas mais radicais, de “puxar tudo”. Calvos lamentam a perda dos cabelos, implantes são tecnologias aceitáveis, mas tingir os cabelos ou usar peruca nem tanto (Simões, 2011, p. 14).

 

Conforme as considerações de Simões (2011), o corpo para o sujeito idoso gay é uma questão relevante em relação às mudanças que ocorrem ao longo do processo de envelhecimento. Com as alterações do/no corpo se dá outro modo de inscrição na constituição como sujeito, que busca alternativas para a manutenção do corpo, pois esse expressa a condição da velhice.

Diante desse panorama, realizamos o exercício de compreender como, no perfil @topassado_, o corpo é significado. Ao contabilizar as publicações que trazem o corpo exposto, ou seja, nu ou quase nu, em um total de 355 postagens até então, podemos somar 18 postagens que publicizam o corpo exposto. Vejamos algumas dessas publicações.

 

Imagem 05 – Postagens que trazem corpos de sujeitos idosos gays expostos. 

Disponível em: https://instagram.com/topassado_?igshid=1qijv1rhwu7m7.

Acesso em: 02 ago. 2020.

 

Observamos a dominância de corpos de idosos brancos, produzindo certos apagamentos dos outros corpos dos outros sujeitos que foram convocados para partilhar suas singularidades, conforme analisamos na imagem 01, anteriormente. O movimento de produzir uma visibilidade é tangenciado, também, pela invisibilidade, pois quando se elege certos corpos para publicizar, outros são deixados de lado.

Corpos são revestidos de sentidos e, assim, no perfil @topassado_do Instagram, nós nos deparamos com uma presença imagética de corpos que trazem em si a fragilidade, as marcas características da velhice, mas são também corpos idealizados, traçados pela virilidade, força, indo contra aquilo que foi proposto pelo administrador do perfil na postagem da imagem 04.

O gesto de presentificar corpos “sarados”, fortes, que operam na busca de evitar que as marcas da velhice sejam efetivadas, almeja evidenciar corpos que representem saúde, vigor, disposição e sensualidade, conforme as imagens postadas. Compreendemos que se organizam formas de se dizer e dizer sobre a velhice, não sendo apenas aquela imagem cristalizada do velhinho doente, solitário, triste, abandonado, visto como um obstáculo a ser rejeitado.

 

Para a análise do discurso, o corpo entra estreitamente relacionado a novas formas de assujeitamento e, portanto, associado à noção de ideologia. Mais do que objeto teórico, o corpo comparece como dispositivo de visualização, como modo de ver o sujeito, suas condições de produção, sua historicidade e a cultura que o constitui. O corpo intangível, e o corpo que se deixa manipular. O corpo como lugar do visível e do invisível (Ferreira, 2013, p.105).

 

O corpo materializa os discursos que, ao longo do tempo, afetam o sujeito. As formas de se ver e querer ser visto agenciam a constituição do sujeito em relação ao seu corpo. A negação da condição da velhice cristalizada atravessa o corpo do sujeito, impondo práticas que resultem em um corpo que mobilize traços ou arranjos que se associem na manutenção de um corpo saudável, forte, viril.

 

Algumas considerações

Dessa forma, é possível compreender que outras formas de constituir a velhice, juntamente com a homossexualidade, são acionadas, promovendo a produção de outros sentidos que rompem com o já-dito sobre a velhice, na direção de ser entendida, tomada, como uma experiência múltipla e rica. E a tecnologia, por meio de suas ferramentas, como as redes sociais, possibilita a produção e circulação de sentidos outros para o corpo do sujeito idoso gay.

Nesse sentido, podemos ver como a rede social on-line, o Instagram, permite ao sujeito idoso gay o contra movimento daquilo que foi imposto, ao longo da história, sob a forma de interdições, silenciamentos, significações dadas por diferentes instituições. A produção de discursos sobre o sujeito idoso gay ainda acontece, e com certeza se manterá, porém, esse movimento não é mais posto como unívoco, protagonista, nesse processo discursivo, pois há deslocamentos na tensa relação entre o “discurso sobre” e o “discurso de”. Formula-se, também, como analisamos neste capítulo, a produção de dizeres que visam ir em confronto com aquele movimento, ou seja, é instaurada uma disputa de sentidos que se dá em relação ao já-dito, por uma memória do dizer. O que vemos, atualmente, é a ampliação do uso das ferramentas tecnológicas, como as redes sociais on-line, com o fim de construir uma memória outra, uma memória do dizer solidificada no embate daqueles discursos que, até então, eram dominantes. Dizeres se digladiam, expondo que os sujeitos idosos gays não se moldam como uma fragilidade paralisante operada pela invisibilidade. O véu da invisibilidade é rasgado, como um ato político, no instante em que um sujeito posta uma foto de dois idosos se beijando, de uma atividade coletiva que visa a promover a sociabilidade ou um evento que busque a divulgação de reivindicações de direitos básicos, tais como: acesso à saúde de qualidade e espaço de lazer. O sujeito idoso gay se depara com aqueles dizeres engendrados por aquela memória, mas agora podem responder e produzir dizeres que repudiam, negam e argumentam com tais dizeres depreciativos, ou seja, instaura-se a produção de outros sentidos, concretizando a produção e circulação (mais ampla) de discursos de si e suas experiências com o outro, com o mundo. É instaurado um jogo tenso de sentidos, em que o sujeito idoso gay pode revisitar aqueles já-ditos e movimentar outros ditos, que, por sua vez, podem direcionar ditos futuros. Uma dinâmica opera pelo poder dizer, poder produzir e, com o uso do espaço digital, faz circular esses dizeres que podem alterar o movimento da história.

Diante desse panorama, adentramos a uma dinâmica específica, em que os dizeres não emanam mais apenas de outros, mas sim do próprio sujeito idoso gay, em formulações que podem circular mais amplamente (pelo digital), conectado, podendo instaurar outras formas de se dizer. E, assim, há possibilidade da constituição de outra posição sujeito autor, que se confronta com aqueles dizeres produzidos pelos outros, sustentados por uma lógica heteronormativa, o que concretiza na tensão, no conflito, marcando que a sociedade não é regida por um desenho social rigidamente imposto. A diversidade de ideias, de vivências, de posicionamentos, das diferentes formas de amar e constituir famílias se articulam no anseio de se realizarem plenamente, sem o cerceamento ou interdição.

A formulação de dizeres na rede social Instagram permite que uma multiplicidade de discursos possa circular e, dessa maneira, produzir sentidos outros na sociedade e na história. E nesse processo de constituição do sujeito, das questões que lhe afetam, novos sentidos são produzidos para a velhice, para o relacionamento dos sujeitos idosos gays, das considerações para o próprio corpo, em um batimento entre a memória e a atualidade.

 

Referências Bibliográficas

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Data de Recebimento: 16/06/2023
Data de Aprovação: 06/01/2024


1  Disponível em: https://instagram.com/topassado_?igshid=1gzabsl65437k. Acesso em: 20 maio 2020.

2  Disponível em: https://canaltech.com.br/empresa/instagram/. Acesso em: 02 maio 2020.

3 Abreviação da palavra “application”, da língua inglesa, que traduzimos como “aplicativo” no cotidiano linguageiro do Brasil.