Revista Rua


Língua na Rua: Margens do Sujeito
(The language in the street: the margins of de subject)

Carolina P. Fedatto

família. [...] Espaço que fica vazio. [...] Por metonímia designa o povo, conjunto de habitantes da rua”. (ORLANDI, 2003: 50). Sujeito no espaço, sujeito do espaço. Que fica vazio. Habitual. Imutável. Que muda pela presença dos sujeitos. Podemos distinguir duas propriedades dos adjuntos nessas nomeações: uma relação de pertencimento (da rua), outra de circunstancialidade (na rua). E vem junto com o nome a marcação do sujeito sem (outro) lugar: estar na rua, ser da rua. A rua é o seu lugar.
O semáforo traz diferentes modos de significação para o sujeito na cidade. O sinal verde abre passagem (para os carros) e espera para os que aguardam uma brecha (atravessar, abordar, passar pela faixa, por entre os carros, exibir-se). Num flash as cores se alteram, o amarelo aparece impondo um intervalo comum nessa espera, um momento disputado por motoristas, pedestres, pedintes, vendedores, artistas, trabalhadores. Sinal fechado, vermelho: pedestres passam por ele, garotos que estão no cruzamento ocupam seus espaços, se exibem. Os pedestres passam por eles, os garotos. Eles, os garotos, passam. A decalagem entre o sinal verde e o sinal vermelho é uma alternância na interlocução da espera: quem espera o quê? Há sujeitos que fazem da parada no trânsito um espaço de circulação de diferentes sentidos na faixa de pedestres. Os garotos-malabaristas não são pedestres, não atravessam a rua, eles estão na rua. Podemos dizer que estar na rua traz equivocamente uma relação de pertencimento. Mas a rua é significada como um espaço de passagem, de trânsito, não de permanência. Meninos na rua são meninos de rua?
 
Recorte 3:
Aqueles que trabalham em semáforos
A maioria das crianças que trabalha nas esquinas
24473 pessoas que moravam nas ruas
A população que vive nas ruas
318 crianças e 25 adultos que vivem nas ruas
Mendigos e menores que vivem nas ruas
População que vive nas ruas
Crianças que vendem mercadorias e pedem esmolas nos semáforos da cidade
Meninos que estiverem nos semáforos
Meninos que trabalham nas ruas da cidade
 
Esse conjunto de nomeações tem como regularidade as construções relativas determinativas seguidas por adjuntos adverbiais. Chamo atenção, primeiramente, para a construção: “Aqueles que trabalham em semáforos”. Retomando a análise de Pêcheux (1975), podemos dizer que a partir de relativas determinativas do tipo “aquele que... / o