Há uma relação significante entre as tomadas externas que retratam o cotidiano da favela e a cena do camarim, onde algo novo se anuncia. No camarim, a imagem da Gisele loura, rica, conhecida internacionalmente, ícone de elegância, beleza e sex appeal sai de cena e é substituída pela da Gisele negra, linda, magra e elegante. Esse jogo, no entanto, pela sequência de imagens e pela relação entre os objetos cenográficos - a fotografia da Gisele loura e o espelho em que a Gisele negra se olha – sugere uma relação parafrástica e tem um efeito irônico, debochado. É justamente esta ironia diante da contradição e da incompletude evidenciada pelas imagens que, mais uma vez, evidenciará o processo discursivo. A sobreposição das imagens sugerida pela sequência faz trabalhar uma rede de memória que evoca as tentativas de europeização e o embranquecimento da população, que continuam mobilizando sentidos no verbal e no visual, mas que aqui trazem a marca da contradição, evidenciada pela ironia, pela inversão.
É desse modo que o padrão de beleza do mundo da moda é reapresentado/narrado com outros sentidos, aberto a novos tipos, na letra da música exibida no clipe: “tem para todos os gostos, gordinha, sarada e magrela”. Nesse ponto, o verbal e o imagético funcionam em relação de parafrasagem, com letra e imagem marcando não a integração entre o morro e o asfalto, mas a diferença.
Disponível em http://www.vozdascomunidades.com.br/videos/favela-fashion-week-reuniao-de-amigos-clipe-oficial