Revista Rua


Sentidos do/no corpo interpelado pelo câncer de mama
Senses of / in nobody challenged by breast cancer

Lívia Fabiana Saço e Eliana Lúcia Ferreira

uma censura que se impõe nessa relação. Essa censura não nasce com ele, mas se filia a seus sentidos. Essa filiação aos sentidos do câncer faz com que a pessoa tenha, em um primeiro momento, a associação com a morte, com a incapacidade, com a impossibilidade, com a debilidade. Isso ocorre porque o câncer já está significado na cultura brasileira, pois já existe um imaginário negativo do que é a doença, que vem por uma historicidade com seus significados.
Segundo Ferreira (2001), o discurso corporal é estruturado diferentemente da linguagem verbal. Por este motivo, estabeleceremos adiante a relação do discurso corporal dito pelo discurso verbal.
Nessa perspectiva, o significado do corpo no grupo das entrevistadas é ambivalente, pois os sentidos dados dependem das experiências pessoais vivenciadas e interpeladas por uma doença que afeta o biopsicossocial.
Quando falamos de discurso corporal, estamos destacando “partes do corpo” biológico, que possui um significado social além da sua própria funcionalidade.
Destacamos a seguir alguns recortes significativos das entrevistas, embasada em três perguntas principais: Como você está se sentindo nesse momento? Quais as principais mudanças ocorridas até o presente momento? Qual sua maior preocupação?
A mama está relacionada à nutrição física que a mãe proporciona ao lactente pelos seios, processo pelo qual a mãe estabelece contato com o filho e lhe proporciona não só o alimento, mas também o prazer e o acolhimento (SILVA, 2008).  A extirpação da mama pode significar para essas mulheres a impossibilidade de permanecerem como acolhedoras e nutridoras (SILVA, 2008), ocasionando conflitos, sentimentos de rejeição e culpa pela perda da feminilidade (CONCEIÇÃO; LOPES, 2008). Estes autores acrescentam que a forma como a mama é vista em uma determinada sociedade contribui para sua maior valorização, influenciando, diretamente, o processo de estruturação da imagem corporal das mulheres.
Segundo Paiva e Goellner (2008), as mulheres, sem a mama, não conseguem se enquadrar nos padrões estéticos valorizados pela sociedade contemporânea. Esses sentimentos de rejeição, perda da feminilidade, valores estéticos e sociais mobilizam a direção de sentidos nestes recortes discursivos formulados pelas depoentes:

(...) se tivesse que fazer “n” retalhos na minha mama me incomodaria menos do que o fato de perder (...) realizar a retirada completa (...) (S7).
 
A que mais marcou foi quando eu perdi meu peito e descobri que estava com câncer (...) Eu tinha medo de tirar a mama, mas não vou precisar estava com um pouquinho de medo, receio (...) porque é um pedaço da gente (...) (S15).