A MPB no regime militar: silenciamento, resistência e produção de sentidos


resumo resumo

Olimpia Maluf-Souza
Fernanda Surubi Fernandes
Ana Cláudia de Moraes Salles



  1. Introdução

No período da Ditadura Militar, o Brasil esteve sob domínio governamental das Forças Armadas Nacionais. Nesse regime, a repressão foi instalada havendo muitos protestos, sobretudo na Música Popular Brasileira que foi silenciada pela censura prévia, pela qual as canções eram somente disponibilizadas ao público após avaliações. Essas avaliações feitas pelos censores do regime, não iam, muitas vezes, em direção ao desígnio do autor da música, o que resultou em desarmonias tanto entre censores e compositores quanto entre os próprios censores, colocando em relevo a incompletude da língua, que se marca pelos deslizes de sentido.

Diante dessa errância, desse movimento cambiante dos sentidos, procuramos compreender, pelos nossos gestos de interpretação, os discursos formulados em condições de produção específicas, como as da ditadura, tomando, assim, como objetivo analisar os modos como uma dada música produz diferentes efeitos de sentido, para distintas posições-sujeito, durante o Regime Militar.

Desse modo, a presente pesquisa busca analisar o funcionamento simbólico a partir da música Flamengo Até Morrer, composta em 1973, pelos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle. Além da música mencionada, nosso material de análise compreende duas entrevistas cedidas por um dos compositores: uma à revista virtual thefrekium!, em 2006, e outra ao Jornal Correio Braziliense, em 2010, como também um pequeno trecho do livro Eu Não Sou Cachorro Não, que traz um comentário a respeito da canção com a qual trabalhamos.

Para tanto, em vista do corpus de pesquisa proposto, tomamos como base teórica a Análise de Discurso pecheutiana, enquanto uma área de conhecimento que compreende o discurso como sendo atravessado pela ideologia na história. Com base nessa perspectiva teórica, buscamos compreender, então, as condições de produção, as posições tomadas pelos sujeitos, como também a ideologia que os interpela, o silenciamento, a censura e a consequência iminente da opressão: a resistência.

 

  1. Ditadura e censura: as tentativas de interdição, de cerceamento e de tutela dos sentidos

O momento particular da Ditadura é tomado pela Análise de Discurso como condição de produção que “[...] compreende fundamentalmente os sujeitos e a situação” (ORLANDI, 2012, p. 30). Por conseguinte, esse contexto histórico apresenta-se como um momento que muito significou no país, pois todos os seus acontecimentos afetaram