O estigma da ameaça ao emprego pelos periféricos na periferia: crise e imigração no Brasil


resumo resumo

Patricia Villen



Como entender as atuais manifestações de violência, racismo, xenofobia que têm como alvo os imigrantes e refugiados – principalmente os não-brancos provenientes de países periféricos – sem considerar as dinâmicas de funcionamento do mercado de trabalho?

Segundo Sayad (1998), é nos momentos de crise – já anunciada como uma certeza histórica para os próximos anos no Brasil – que a verdade da imigração se revela. A frase “vocês roubam nossos empregos!”, pronunciada pelos responsáveis dos tiros disparados contra seis haitianos que se encontravam em São Paulo, no dia 8 de agosto de 2015, em frente à Igreja da Paz[1] – espaço representativo, na atualidade, da busca e da necessidade extrema de trabalhar por parte de imigrantes e refugiados recém-chegados nessa cidade – é bastante elucidativa dos limites de uma aproximação da problemática que não se pergunte sobre essa ligação.

Se o mercado de trabalho é um termômetro para se compreender o aumento e a diminuição das entradas de imigrantes e refugiados em determinados contextos econômicos e políticos da história do país, também oferece parâmetros para se analisar as oscilações desses diferentes tipos de hostilidade contra o “estrangeiro”.

A convivência entre nacionais e “estrangeiros”, tanto conflituosa como solidária, é parte presente da história da imigração no Brasil, notadamente para aqueles pertencentes à classe trabalhadora, em geral, com maior presença numérica nos diferentes tipos de movimentos internacionais de populações. Do mesmo modo, a estratégica construção de “falsos antagonismos” (BASSO, 2015) entre essas categorias, tão disseminados nos tempos atuais, não é uma novidade num país com longa tradição de imigração.

Em especial, os períodos históricos marcados por crises de ordem econômica e política na conjuntura nacional e internacional explicam a funcionalidade da construção de um universo simbólico que coloca o estrangeiro como “concorrente”, como “bode expiatório” do mal estar socioeconômico, senão como “potencial inimigo” da nação (BASSO, 2010).

No Brasil, a década de 1930 representa um laboratório importante para análise dessas questões. O primeiro “fechamento” das fronteiras foi funcionalmente justificado



[1] Embora tenham sempre existido, não há dúvida de que os diferentes tipos de agressões a imigrantes e refugiados se intensificaram sobremaneira no ano de 2015, com o aumento das taxas de desemprego no país (pelos dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego do Seade/Dieese, a taxa de desemprego na Região Metropolitana de São Paulo subiu ininterruptamente durante todo o ano, atingindo 13,7% em julho de 2015). No caso citado, a despeito de as balas terem sido de “chumbinho”, não deixaram de ferir e, principalmente, ameaçar pelo medo essa base social da imigração no Brasil contemporâneo.