Memória e movimento no espaço da cidade: Para uma abordagem discursiva das ambiências urbanas


resumo resumo

Carolina Rodríguez-Alcalá



1. Apresentação

Neste texto apresentamos elementos para uma primeira aproximação da noção de ambiência urbana a partir da perspectiva da análise do discurso (doravante AD), mais especificamente da área de saber urbano e linguagem, a partir de uma pesquisa realizada no espaço público da cidade de São Paulo. A pesquisa esteve inserida em um projeto mais amplo de cooperação internacional[1], que reuniu equipes oriundas de cinco países (França, Alemanha, Polônia, Tunísia, Brasil) a fim de promover uma discussão sobre essa noção a partir de diferentes campos disciplinares (arquitetura, urbanismo, sociologia, geografia, psicologia, saúde pública e estudos da linguagem), fundamentada na análise da realidade das cidades de Paris, Bonn, Varsóvia e Tunes, além de São Paulo.

Discutiremos, em primeiro lugar, algumas relações que podem ser estabelecidas, do ponto de vista epistemológico, entre a fenomenologia que sustenta a abordagem das ambiências no campo dos estudos urbanos[2] e o dispositivo da AD, para esboçarmos, em seguida, algumas aproximações teóricas e conceituais que a análise de nosso corpus permitirá esclarecer.

Uma questão incontornável coloca-se para nós, logo de início, nessa empresa. Se a ambiência é definida como um espaço-tempo qualificado do ponto de vista sensível, é estabelecido, ao mesmo tempo, que ela convoca fenômenos perceptivos que remetem a uma dimensão pré-lingüística da experiência humana, escapando ao universo do discurso e à linguagem articulada (cf. THIBAUD, 2004). Como justificar, então, a pertinência da reflexão sobre a linguagem para a compreensão da dinâmica das ambiências?

A discussão feita por Thibaud (ibidem) da filosofia da experiência de Dewey, da qual extrai elementos para elaborar a teoria das ambiências situadas, nos dá as pistas a partir das quais responder a essa questão. Como aponta Thibaud, a percepção sensível é, para Dewey, inseparável do sentido conferido a uma situação, pois pela própria etimologia o termo sensível remete àquilo que é tanto da ordem da sensibilidade como

 


[1] Trata-se do Projeto ACI – Dynamiques et processus d’émergence des ambiances urbaines, desenvolvido sob coordenação de Jean-Paul Thibaud, do Laboratório Cresson (Centre de Recherche sur l'Espace Sonore et l'Environnement Urbain), da Escola Nacional Superior de Arquitetura de Grenoble (Ensag), com financiamento do Cnrs (Centre national de la recherche scientifique), França. Participaram do projeto equipes vinculadas às seguintes instituições: Ensag, França, Instituto de Geografia da Universidade de Bonn, Alemanha; Departamento de Psicologia Social da Universidade de Varsóvia, Polônia; Escola Nacional de Arquitetura e Urbanismo, Tunísia, Labeurb/Nudecri, Unicamp; Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – Cetesb, e Faculdade de Saúde Pública-Usp, Brasil.

[2] Tal como desenvolvida pela equipe do Laboratório Cresson/Ensag.