Dos não-lugares à cidade senciente


resumo resumo

Lucia Santaella



lugares antropológicos são identitários, relacionais e históricos e criam um social orgânico, os não-lugares criam tensão solitária.

Aos não-lugares de Augé, Bauman (2001, p. 112-114) acrescentou os espaços vazios, termo cunhado por Kociatkiewicz e Kostera. Trata-se de espaços vazios de significado. A família desses espaços não se limita ao que sobra dos espaços arquitetônicos, às margens que o olhar do urbanista negligenciou, mas faz parte de um outro processo, o dos mapas mentais que os habitantes têm das cidades em que vivem. Cada um de nós tem um mapa da cidade na cabeça. São mapas diferenciados, compostos de cheios, os lugares que frequentamos, e vazios, os lugares que ignoramos porque não queremos ou não somos capazes de ver. “O vazio do lugar está no olho de quem vê e nas pernas ou rodas de quem anda. Vazios são os lugares em que não se entra e onde se sentiria perdido e vulnerável, surpreendido e um tanto atemorizado pela presença de humanos” (BAUMAN, ibid., p. 122).

Conforme já diagnostiquei em outra ocasião (SANTAELLA, ibid., p. 177), tanto Augée quanto Bauman, não mencionam ou só mencionam obliquamente um tipo de espaço que não está separado da vivência, mas com ela se entrelaça: os espaços da comunicação, especialmente os da comunicação midiática. Já era difícil deixar de perceber esses espaços no apogeu hegemônico da comunicação massiva, do rádio e principalmente da televisão. Com a emergência da cultura das mídias, caracterizada pelo narrowcasting e equipamentos de personificação comunicativa, sua visibilidade se tornou inquestionável até ocupar toda a cena frontal do cenário sociocultural, a partir do momento em que as redes de comunicação puseram-se a proliferar tentáculos até cobrir toda a superfície invisível do globo.

 

2. A cidade informacional

Já no final dos anos 1980, na emergência de um novo tipo de configuração ou formação urbana, que naquele momento era tratado sob o tema da globalização e, pouco mais tarde, de glocalização, Castells (1989) lançou seu livro The information city (A cidade informacional). Para Featherstone e Lash (1999, p. 4), a cidade informacional viria se tornar componente chave da globalização. Criaram-se, então, espaços de fluxos que foram, nessa época, também caracterizados como forças descentradas, desespacializadas e desmaterializadas que

 

trabalham ao longo e contra os códigos geopolíticos da soberania espacial. O local e o global estão emergindo em novos modos glocais de produção, fora das fronteiras nacionais. Nos fluxos, há novos universais e novos particulares sendo criados pelas redes de trocas