O ritual da mística no processo de identificação e resistência


resumo resumo

Freda Indursky



espaço material e público, mas não à educação. Esta é a contradição que sustenta a trágica situação que ainda hoje persiste na Educação Pública brasileira. Para melhor entendermos isso, ouçamos Foucault:

 

"...a educação, embora seja, de direito, um instrumento graças ao qual todo indivíduo [...] pode ter acesso a qualquer tipo de discurso, segue, em sua distribuição, no que permite e no que impede, as linhas que estão marcadas pela distância, pelas oposições e lutas sociais. Todo sistema de educação é uma maneira de manter ou de modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes que eles trazem consigo." (FOUCAULT, 1970/1996, p. 44).

 

Espero ter podido salientar, mesmo que brevemente, que as mudanças curriculares feitas nos anos 70 no século passado serviram não para modificar o modo de apropriação dos saberes, nem, tampouco, para garantir o acesso democrático a esses saberes, mas, ao contrário, se transformaram em um instrumento que serviu para manter e aprofundar as desigualdades na apropriação dos saberes.

Em função do exposto, espero ter podido responder à pergunta feita ao final da seção anterior e, assim, esclarecer a demanda do MST: tomar em mãos a educação de seus filhos para modificar os rumos da escola tradicional e assim garantir uma escola capaz de formar os sem-terrinha a partir da história de luta e dos saberes Sem Terra, uma Educação que respeite o lugar social a que pertencem seus pais e, por conseguinte, seus filhos. Formá-los adequadamente para assumir a continuidade da luta pelo direito à terra, pela justiça social na terra.

Percebe-se que o Setor de Educação do MST tinha bem claro que a Escola Pública, tal como está(va) concebida, é um aparelho ideológico destinado a reproduzir as desigualdades sociais. E era isso que o MST pretendia superar com seu Projeto. Nesse ponto, vale lembrar a palavra de Bauman:

 

Se a legislação estabelece a agenda, dividindo as opções teoricamente possíveis entre as que são permitidas e as que são proibidas e puníveis, a educação desempenha sua função codificante, subdividindo o conjunto de opções disponíveis/permitidas entre as que são desejáveis/recomendáveis/adequadas e as indesejáveis/não recomendáveis/inadequadas. (BAUMAN, 1999/2000, p. 79.)

 

A reflexão de Bauman ilumina bem a opção feita pelo Setor Educacional do MST: em lugar da escola pública tradicional[1], inadequada para a formação dos sem-

A classe média foi colocada diante desse impasse também, pois a Escola Pública já não atendia suas expectativas em relação à educação de seus filhos. E sua "opção" foi a de encaminhá-los para a Escola Privada. O que nos permite perceber que a Escola Pública não está(va) atendendo aos interesses nem da classe média nem da classe dos trabalhadores.



[1] A classe média foi colocada diante desse impasse também, pois a Escola Pública já não atendia suas expectativas em relação à educação de seus filhos. E sua "opção" foi a de encaminhá-los para a Escola Privada. O que nos permite perceber que a Escola Pública não está(va) atendendo aos interesses nem da classe média nem da classe dos trabalhadores.