Relacão sujeito indígena/cidade: Análises para a construção de um objeto de pesquisa


resumo resumo

Águeda Aparecida da Cruz Borges



O meu interesse não é definir quem é índio, ou onde deve ficar o índio, mas esse discurso é, também, fundamental para se pensar o processo de identificação/subjetivação desse sujeito no espaço urbano.

Reitero que, historicamente, por efeito da memória discursiva, existe um imaginário de índio materializado, parafrasticamente, no recorte de comentários, que corrobora com o imaginário de que “lugar de índio é na aldeia” e/ou “índio que mora em cidade não é índio". Índios é o que vive na mata, que anda pelado, que não tem veículo automotivo… (A. Mackuxi); eles ainda têm uma visão de 510 anos atraz,não perceberam que o mundo muda, tudo muda, tudo se transforma, nada é permanente (P. Pankararu); Essa discussão não é nova e me toca profundamente. (...) Eu continuo índio sempre. (L. C. Xavante); mas nunca deixo de ser índia (...) nunca deixaremos de ser índios (M. Tukana); Há quem considere que quando o índio absorve costumes externos deixa de ser índio (entrevistadora).

Pelo efeito de evidência, a imagem de índio do passado vai se mantendo, mas, se por um lado, se repetem e se impõem os sentidos carregados de negatividade em relação aos povos indígenas, por outro, percebem-se outros sentidos diferentes na disputa por espaços de significação, o que, sob o meu parecer, aponta para um deslocamento discursivo, sintoma de que não estamos fadados à reprodução e à fixidez dos sentidos.

Como em outros trabalhos, tal imaginário faz parte de uma discursividade fundada no discurso da colonização. No recorte em pauta, identificamos: preconceito, constrangimento, humilhação, discriminação, desumanização, invisibilidade, como nos destaques das sequências discursivas de vozes indígenas:

 

(Makuxi) A maioria dos indígenas que vive nas cidades sofreram e sofrem discriminação e preconceito

(Pankararu) eu ja passei por situações semelhantes, na universidade me olhavam e falavam indígenas estudando na universidade, cursando uma graduação, especialização.

(Pankararu) afinal não estamos isolados do mundo, também somos pessoas, seres inteligentes, somos seres humanos

(Xavante) Há pessoas que não conseguem, mesmo, olhar para o outro como semelhante

(Tukana) infelismente as pessoas tem essa idéia ainda, que índio anda nu, vive na oca e que come gente

 

Instalado no interdiscurso, o discurso do passado se materializa e atualiza, como, por exemplo, na base linguística dos enunciados: “índio não é gente”, “índio é bicho”, “índio não trabalha”, “índio não é como nós”, que retomam “índio selvagem”, “índio