Reportagem e Folhetinismo: narrativas infames como poder finalista


resumo resumo

Rodrigo Marcelino



“Sabeis o que é a flânerie?” pergunta Alencar (1874), nas colunas do Correio Mercantil e do Diário do Rio de Janeiro, entre 1854 e 1855. No tempo em que o cronismo é o passeio ao ar livre, feito lento e “vagarosamente, conversando ou cismando, contemplando a beleza natural ou a beleza da arte; variando a cada momento de aspectos e de impressões” (idem, p.49). Em todos os tempos, flanar é um delicioso passeio na Rua do Ouvidor. A arte de flanar em Paulo Barreto não é como as viagens campestres de Macedo, pelas vias férreas do Visconde de Mauá, da Estrela ao Fragoso, ou pelas barcas a vapor da Companhia União Niteroiense. Não é o passeio que inclui o uso de carros a vapor, a necessidade de maxambombas e gôndolas, com as quais se vai do morro de Santa Teresa à cidade insalubre e não esquadrinhada, com ruas cheias de buracos, iluminadas a lampião de gás. Com o cronismo de Paulo Barreto se faz um passeio através da vertiginosa Avenida Central, pontilhada de luz elétrica, ou se faz na velocidade da combustão do automóvel, entre as sombras da primeira estaca batida na Gamboa. Havia na crônica a flânerie, que se tornará indispensável à reportagem de polícia das ruas da cidade, que “passeia entre as pessoas com o ouvido alerta apanhando no ar todas as indiscrições” [1].

Careta, 21 de dezembro de 1912.



[1] Careta, 21 de dezembro de 1912.