Visões da cidade de Natal: construção identitária a partir do discurso poético


resumo resumo

Marília Varella Bezerra de Faria



habita mantém sua identidade através dos tempos, a despeito de toda a tirania do colonizador.

 

A construção de possíveis identidades

Essas representações da cidade de Natal, que podem ser lidas em poemas como os de Ferreira Itajubá e de João da Rua, transmitem que ideias sobre possíveis identidades culturais da cidade? Como dialogam essas representações?

Busca-se amparo teórico na concepção de linguagem bakhtiniana, na medida em que se considera o discurso poético como uma memória sobre a cidade. Acrescente-se, ainda, que a cidade tem suas identidades construídas a partir de um conjunto de práticas sociais historicamente determinadas. O Círculo de Bakhtin (1992, 2002a, 2002b, 2003, 2010) coloca, como essencial, uma proposta de compreensão da realidade na qual a vida, a ciência e a arte se entrelaçam.

Nesse sentido, revela-se fundamental o conceito de estilo como mecanismo discursivo que possibilita o acesso à construção identitária em práticas discursivas. De acordo com Bakhtin (2002a, 2003), o estilo resulta de tomadas de posição axiológicas, realizadas por meio da atividade estética, face ao objeto, emergindo, nesse processo, as vozes sociais, que se entrecruzam, estabelecem as mais diversas relações dialógicas e constituem os discursos. Em outras palavras, o estilo é um resultado das escolhas que o autor criador faz ao construir o seu discurso sobre determinado objeto.

Além disso, Bakhtin considera a obra artística como uma unidade da comunicação discursiva, também delimitada pela alternância dos sujeitos do discurso. Assim, a obra é, ao mesmo tempo, vinculada a outras obras, mas também delas separada pelos limites da alternância desses sujeitos. Conforme o autor,

 

o sujeito do discurso – neste caso o autor de uma obra – aí revela a sua individualidade no estilo, na visão de mundo, em todos os elementos da ideia de sua obra. Essa marca da individualidade, jacente na obra, é o que cria princípios interiores específicos que a separam de outras obras a ela vinculadas no processo de comunicação discursiva de um dado campo cultural: das obras dos predecessores nas quais o autor se baseia, de outras obras da mesma corrente, das obras das correntes hostis combatidas pelo autor, etc. (BAKHTIN, 2003, p. 279, grifo do autor).

 

Ao que parece, as fronteiras da obra possuem um caráter interior, e isso faz com que uma obra se estabeleça como sendo aquela e não outra. A marca individual da obra