O ritual da mística no processo de identificação e resistência


resumo resumo

Freda Indursky



Terra entendem ser necessária uma licenciatura específica para os professores que atendem seus filhos?

 

A Educação Pública e o MST

Para responder a este questionamento, é preciso examinar, antes de mais nada, o que sucede/sucedia na Escola Pública de modo geral. Para tanto, lembremos que a escola pública, até os anos 60 do século passado, sempre foi de qualidade, mas restrita à classe média. A população escolar era bem mais reduzida. Na década de 70, o Governo Militar, através da Lei 5692/71, decidiu “democratizar” a educação, abrindo as portas das escolas para as classes trabalhadoras.

Este ato, tomado nele mesmo, foi muito importante e já deveria ter sido realizado há muito tempo, pois havia uma parcela significativa da população que não chegava à escola ou que nela permanecia no máximo de dois a três anos, o tempo suficiente para aprender a fazer alguns cálculos básicos, saber produzir uma leitura funcional, escrever alguma coisa, assinar o nome. Por conseguinte, a chegada e a permanência dos filhos da classe trabalhadora na escola era essencial. Mas é bom lembrar que não bastava abrir as portas ao povo. Era preciso, antes, avaliar as diversas implicações de tal ato para que ele não fosse apenas pró-forma, bem como se fazia imperioso prever formas de acompanhamento dessa abertura para que ela fosse bem sucedida. Entretanto isso não sucedeu. Ao contrário, essa transformação do público alvo da Escola foi feita sem grandes reflexões, sem o adequado preparo dos professores que iriam trabalhar com este novo alunado, diferente daquele a que estavam habituados, um alunado que não pertencia à classe média[1], que falava uma variedade linguística diversa, que não tinha hábitos de leitura, que trazia experiências de vida muito distintas daquele aluno de classe média que estava inserido na escola há já bastante tempo. Ou seja: a abertura das portas da escola promoveu em lugar de um encontro, um verdadeiro desencontro entre professores e alunos, por um lado, e entre os próprios alunos, por outro.

 

As Secretarias de Educação (pelo menos, no RS), sob a determinação do Ministério de Educação, criaram cursos para "reciclar" os professores da rede pública, com o objetivo de prepará-los para essa mudança. Essa reciclagem foi muito rápida. Em primeiro lugar, visava familiarizar os professores com a nova legislação. E também procurava "modernizar" o ensino, nele introduzindo novos conhecimentos. Novamente refiro-me ao que sucedeu com professores atuando em Língua Portuguesa, em Porto Alegre, onde vários professores da rede pública eram oriundos de cursos universitários onde já se estudava a Teoria da Comunicação e a Análise Gerativa estava sendo aplicada à Língua Portuguesa. Esses conhecimentos deslizaram dos bancos universitários para os escolares sem muitos questionamentos. E isso sucedeu exatamente no momento em que os filhos das classes trabalhadoras estavam chegando à escola. Diria que esse alunado e suas necessidades estavam muito distante dos saberes dos professores que iriam com eles trabalhar.



[1] As Secretarias de Educação (pelo menos, no RS), sob a determinação do Ministério de Educação, criaram cursos para "reciclar" os professores da rede pública, com o objetivo de prepará-los para essa mudança. Essa reciclagem foi muito rápida. Em primeiro lugar, visava familiarizar os professores com a nova legislação. E também procurava "modernizar" o ensino, nele introduzindo novos conhecimentos. Novamente refiro-me ao que sucedeu com professores atuando em Língua Portuguesa, em Porto Alegre, onde vários professores da rede pública eram oriundos de cursos universitários onde já se estudava a Teoria da Comunicação e a Análise Gerativa estava sendo aplicada à Língua Portuguesa. Esses conhecimentos deslizaram dos bancos universitários para os escolares sem muitos questionamentos. E isso sucedeu exatamente no momento em que os filhos das classes trabalhadoras estavam chegando à escola. Diria que esse alunado e suas necessidades estavam muito distante dos saberes dos professores que iriam com eles trabalhar.