Visões da cidade de Natal: construção identitária a partir do discurso poético


resumo resumo

Marília Varella Bezerra de Faria



entre coqueiros”; “mar esmeraldino”; “serra aveludada”; “terra bendita”. A identidade construída pelo discurso e representativa da cidade processa-se em função do uso de elementos estilísticos, privilegiadamente aqueles que pintam a natureza de variadas cores. São tons que refletem, por um lado, a luminosidade da cidade e, por outro, a sua pureza. Também assim faz o poeta ao selecionar personagens populares e singelos, como “barqueiros”, “jangadeiros” e “moças solteiras”.

 

A poesia de João da Rua[1]

O segundo poema é O canto do colonizado contra o entregador (RUA, 1999). Como o próprio título sugere, o discurso do poeta revela uma identidade índia da cidade, que, apesar da colonização e do massacre, resiste. Como assinala Rua (1999, p. 55), há, no povo da cidade, “um velho sentimento índio / resistindo pela eternidade”. O discurso do poeta sugere uma mágoa guardada na alma do povo, o que se faz reforçar pela utilização do vocábulo “traidor”. Na verdade, o preconceito sempre existiu entre a classe alta (via de regra, descendente dos colonizadores europeus) e os poucos indígenas que restaram, os quais, juntamente com os negros e com os descendentes das miscigenações que deles resultaram, lutam até os dias atuais para sobreviver e manter suas identidades. É essa cidade miscigenada que o poema contempla. Mas, para além dessa particularidade, registram-se referências a atributos da cidade vinculados à natureza: água, luz, estrela d’alva, lua, sol.

Natal

de peixe boi à fortaleza

não existe mistério

tudo todo mundo sabe

neste pequeno espaço

deste perímetro urbano

não há segredo no rosto da cidade

 

todo dia a estrela d’alva lumia

no peito desta gente multicor

um velho sentimento índio

que não seja traidor

tudo todo mundo sabe

sob a lua ou sob o sol desta cidade

um velho sentimento índio

resistindo pela eternidade

Também O canto do colonizado contra o colonizador traz à tona o tema da invasão. O poeta apresenta a cidade, para ele, sem segredo, na qual o colonizado que a

Nascido em Natal, a 17 de agosto de 1961, João Batista de Morais Neto é poeta e ficcionista, autor de Temporada de Ingênios (1986) e do livro de poemas, Livro de Bolso (1980). Formou-se em Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e atualmente leciona as disciplinas Língua Portuguesa e Literatura Brasileira no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte.



[1] Nascido em Natal, a 17 de agosto de 1961, João Batista de Morais Neto é poeta e ficcionista, autor de Temporada de Ingênios (1986) e do livro de poemas, Livro de Bolso (1980). Formou-se em Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e atualmente leciona as disciplinas Língua Portuguesa e Literatura Brasileira no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte.