Visões da cidade de Natal: construção identitária a partir do discurso poético


resumo resumo

Marília Varella Bezerra de Faria



suas próprias identidades transfiguradas, seja no imaginário que estes têm da cidade, seja no que pensam sobre si próprios.

Apesar da característica transitória e fluida das identidades, sejam essas de pessoas ou de lugares, o que acontece na cidade é súbito como uma explosão. Os parâmetros até então vigentes são reformulados: a cidade, antes provinciana, passa, em um curto espaço de tempo, à condição de cosmopolita.

Essa é a Natal (atualmente, com quase um milhão de habitantes) sobre a qual falam os dois poetas nesta pesquisa. Sobre ela, constroem representações.

 

A poesia de Ferreira Itajubá[1]

O soneto Terra Mater (ITAJUBÁ, [1914] 1984, p. 97-98) descreve aspectos da cidade de Natal no início do século XX. Trata-se de um canto de amor à terra, no qual o poeta faz sobressair as características físicas da cidade, bem como alguns costumes da época. As descrições da beleza do lugar permeiam, na verdade, todo o poema. O poeta constrói seu discurso em torno de um movimento dialógico entre a ideia da beleza e do prazer e a ideia do trabalho.

Natal é um vale branco entre coqueiros:

Logo que desce a luz das alvoradas,

Vão barra afora as velas das jangadas,

Cessam no rio as trovas dos barqueiros:

 

E à tarde, quando os rudes jangadeiros,

Voltam da pesca às praias alongadas,

Começa à sombra fresca das latadas

A palestra amorosa dos solteiros.

 

Quantas belezas mil Natal encerra!

Deu-lhe a natura um mar esmeraldino,

Despiu-lhe o morro, aveludou-lhe a serra...

 

Terra de minha mãe, bendita sejas,

Orvalhada do pranto cristalino

Da saudade das moças sertanejas!

 

A cidade de Natal apresenta-se (e representa-se) plena de beleza, como atestam seus encantos capturados pelos versos do poema que assim a descrevem: “vale branco

Nascido em Natal, a 21 de agosto de 1876, Manoel Virgílio Ferreira foi boêmio, inquieto, carnavalesco, chegando a ter seu talento marginalizado pelos círculos oficiais. Sua poesia, porém, rompeu barreiras e começou, aos poucos, a ser reconhecida pela elite intelectual da época. O poeta pós-romântico faleceu em 30 de julho de 1912, deixando um acervo de poesias, as quais foram posteriormente publicadas nas seguintes obras: Terra Natal (1914) e Poesias Completas (1927).

 



[1] Nascido em Natal, a 21 de agosto de 1876, Manoel Virgílio Ferreira foi boêmio, inquieto, carnavalesco, chegando a ter seu talento marginalizado pelos círculos oficiais. Sua poesia, porém, rompeu barreiras e começou, aos poucos, a ser reconhecida pela elite intelectual da época. O poeta pós-romântico faleceu em 30 de julho de 1912, deixando um acervo de poesias, as quais foram posteriormente publicadas nas seguintes obras: Terra Natal (1914) e Poesias Completas (1927).