O ritual da mística no processo de identificação e resistência


resumo resumo

Freda Indursky



encarregada do módulo de Língua Portuguesa[1] do Curso de Pedagogia, estruturado especialmente para a formação de professores Sem Terra. Não disponho de nenhum registro escrito, nenhuma foto, apenas o referido relato que, após ter sido descrito, foi submetido a minha informante para que pudesse ser aqui apresentado da forma mais fiel possível, sem distorções. Na ausência de um registro, vou apresentar a descrição desses eventos para, a seguir, tomá-los como objeto de análise. Vou intitular essas místicas para facilitar sua referência. A primeira receberá como título As místicas de sala de aula e a segunda A mística da formatura. Passemos, pois, às descrições.

 

As místicas de sala de aula  

Em 1999, o MST estabeleceu um convênio com a UNIJUÍ para que fosse estruturada uma Licenciatura destinada à formação de Professores Sem Terra que, por sua vez, garantissem a educação dos sem-terrinha, forma como eles se referem a suas crianças, residentes em acampamentos e assentamentos. O objetivo dessa Licenciatura era buscar a formação de professores que atendessem aos interesses/objetivos/saberes Sem Terra, os quais nem sempre coincidem com os saberes da Escola Tradicional. Essa demanda permite identificar uma tomada de posição por parte das lideranças do Movimento sobre a questão da educação de seus filhos.

A demanda em questão foi concretizada e os Sem Terra passaram a frequentar o Curso de Formação Pedagógica na UNIJUÍ. Em todas as aulas (pelo menos nas do núcleo de Língua Portuguesa), antes que se iniciasse o trabalho, uma bandeira do MST era colocada sobre a mesa  e  os estudantes sem-terra cantavam hinos. Ao término das aulas voltavam a entoar suas canções, cujas letras remetiam aos seus saberes e suas metas e só então a bandeira era recolhida. Esse ritual atualizava, a cada vez, a memória de seu lugar social.

Este funcionamento lembra duas práticas diversas. Por um lado, a hora cívica em que, nas escolas, é(ra) hasteada a bandeira e cantado o hino nacional. E, por outro, o ritual de escolas religiosas que inicia(va)m e termina(va)m[2] as aulas, fazendo uma oração. Vê-se que o religioso cedeu lugar ao político, com a transformação de uma prática religiosa em uma prática político-ritualística que também absorveu e ressignificou o momento cívico. Assim como a oração reafirma a fé e marca a pertença

Aproveito para agradecer à professora Dra. Ercília Ana Cazarin pelo relato preciso e precioso das místicas que vou tomar como objeto de análise do presente trabalho.

Grafo assim por não ter conhecimento se esta prática ainda existe.



[1] Aproveito para agradecer à professora Dra. Ercília Ana Cazarin pelo relato preciso e precioso das místicas que vou tomar como objeto de análise do presente trabalho.

[2] Grafo assim por não ter conhecimento se esta prática ainda existe.