Movimentos da contemporaneidade: a rua, as redes e seus desencontros
Cristiane Dias Marcos Aurélio Barbai Greciely Cristina da Costa
O rumo das manifestações e essa dispersão que caracterizou seu desfecho não é tema central dessa reflexão. Mas é importante apontarmos essa dispersão como um dos efeitosproduzidos pelaforma de organização do protesto por meio da conectividade, e cuja constituição do sentido se dá apartir da inscrição numamemória metálica,definida por Orlandi (2004), como sendo a memória da “quantidade e nãohistoricidade”. Ou seja, essa organização se dá pela expansão horizontal de enunciados, como #vemprarua ou #naoépor20centavos #mudabrasil etc.Para Orlandi (2004) é um dizer que produz efeitos “como se fosse uma memória vertical”. No entanto, é um dizer presentificado.
Nessa inscrição, jogam os sentidos de uma sociedade conectada,online, em que a circulação eocompartilhamento da informaçãose sobressaemao modo de organização social constituídohistoricamente.
No entanto, justamente, por se organizar em rede,de formadescentralizada e dispersa, os movimentos da contemporaneidadesão facilmente desmantelados e produzem efeitospontuais, “efeitos de memória”.Não encontram um espaço de legitimidade para suasreivindicações,de escuta, uma vez que sãoesvaziados e esquecidos no jogo algorítmico da rede.
O que há, em nosso entender, é um desencontro entre uma forma de organização dos movimentos sociais (e do Estado como efeito-leitor), inscrita numa memória do interdiscurso que é a dos movimentos sociais institucionalizados (sindicatos, movimentos estudantis, partidos políticos) e uma forma de organização desses movimentos que se inscreve numa memória metálica, como se fosse do interdiscurso, dando margem para incompreensões e equívocos tanto da parte dos manifestantes quanto da parte do Estado.Numa democracia, abolir as instituições sem um projeto político outro em seu lugar é cair facilmente numa ditadura.
Se por um lado, nos anos 60, o modo de simbolização do político se dava por dizeres como “É proibidoproibir! ”, “Faça amor não faça guerra” (cf.ORLANDI, 1999, p. 62), por outro lado, nos movimentos contemporâneos, essa simbolização se dá por formulações como: #vemprarua, #nãoépor20centavosépordireitos etc., inscrevendo o sentido em outra discursividade, em outra memória do dizer: a metálica. No caso dessas formulações, a inscrição do dizer nessa memória metálica se dá pelahashtag.
Conforme Dias e Coelho (2014, p. 236), ashashtagssão um convite aos sujeitos não só à informação, mas também à colaboração (no sentido da rede, de colaboratividade) com a causa da rua.Essashashtagssão uma repetição horizontal, uma re-atualização constante do sentido, presentificando a históriano imediatismo da