Visões da cidade de Natal: construção identitária a partir do discurso poético


resumo resumo

Marília Varella Bezerra de Faria



O que interessa são essas imagens que os poetas, ao longo da história, foram imprimindo em textos. E é também em função dessas imagens que – ao se examinarem as identidades delas emergentes se enxerga a cidade sobressaída de tais representações. Conforme, ainda, Pesavento (2002, p. 13), “as obras literárias, em prosa ou verso, têm contribuído para a recuperação, a identificação, a interpretação e a crítica das formas urbanas”.

Antes, porém, de se “ouvir” a poesia de Ferreira Itajubá e a de João da Rua, busca-se, de forma breve, (re)construir historicamente a cidade de Natal, com o objetivo de melhor contextualizar o objeto deste estudo.

De acordo com velhas crônicas sobre a fundação da cidade de Natal, esta teria nascido envolta em uma lenda e, por isso, seria “eterna como o mundo” (DANTAS, 2000, p. 68). A lenda conta que Jerônimo de Albuquerque[1] pretendia fundar uma cidade dando-lhe um nome que lembrasse o nascimento de Jesus. Ao navegar pela costa potiguar, apareceu uma criança no convés da caravela, apontando para um porto seguro, o que teria sido entendido pelo navegador como um sinal dos céus. Teria fundado Natal no mesmo dia em que encontrou terra firme. Essa versão, contudo, parece ter sido fruto da imaginação do cronista, mas seguiu sendo repetida por muitos anos.

Conforme os registros oficiais, no entanto, a cidade foi fundada em 25 de dezembro de 1599, pelo próprio Jerônimo de Albuquerque, então capitão-mor da Fortaleza dos Reis Magos. Há, ainda, duas outras versões: a de que a cidade teria sido fundada pelo administrador português Manuel de Mascarenhas Homem; e a de que teria sido fundada por João Rodrigues Colaço, primeiro capitão-mor do Rio Grande do Norte.

Para alguns estudiosos, Natal, somente a partir dos anos 1920, pode, de fato, ser chamada de cidade. Em um trocadilho do fim do século XIX, dizia-se: “Cidade do Natal? Não há tal!”. Sobre essa cidade que ainda, de fato, não é cidade, Eloy de Souza (1873-1959), em sua famosa conferência, de 20 de fevereiro de 1909, afirma:

 

Dois séculos após a fundação da cidade e criação da capitania, ainda vivíamos quase tão primitivamente como os naturais contra os quais havíamos cruelmente pelejado, e, por ventura, nos encontrávamos em atraso maior e pobreza mais generalizada do que ao tempo da ocupação holandesa, quando se construíram os primeiros engenhos de açúcar, e a vida agrícola atravessou uma fase de atividade desconhecida (SOUZA, 1999, p. 13).

 

Administrador colonial português que recebeu o comando do Forte do Rio Grande das mãos de outro administrador da colônia, Manuel de Mascarenhas Homem, em 1958 (CASCUDO, 1999).



[1]Administrador colonial português que recebeu o comando do Forte do Rio Grande das mãos de outro administrador da colônia, Manuel de Mascarenhas Homem, em 1958 (CASCUDO, 1999).