Relacão sujeito indígena/cidade: Análises para a construção de um objeto de pesquisa


resumo resumo

Águeda Aparecida da Cruz Borges



- (...)Talvez eu tinha assim algum tempo, assim, atrás, eu tinha uma visão, assim que o índio não era uma coisa boa, eu tinha assim uma visão, assim que índio não era uma coisa boa, mas hoje inda bem que eu estou, que eu já estou mudando, assim, o próprio estudar a história da educação eu já tenho uma visão melhorzinha de índio, de que é ser índio, e já tô  conseguindo, assim, valorizar.

 

Atentemos para o mas, que marca um discurso dividido, estabelecendo uma ruptura entre o antes e o depois da educação formal. No entanto, quando diz que tem uma visão melhorzinha, percebemos, no diminutivo, um efeito de sentido pejorativo, que nos permite dizer que não houve essa ruptura. (idem, 2009, p.21).

 

Ainda, tomo por referência um segundo artigo, no qual discutimos a obra Quarup, de Antonio Callado, na relação com discursos sobre os indígenas na cidade (cf. BORGES & MIRANDA, 2007).

Outro aspecto determinante do objeto da tese pode ser fundado na reflexão: mesmo que muitos indígenas estejam “integrados” à sociedade não índia, há uma delimitação, uma fronteira no discurso do “branco” que se inscreve no enunciado, “lugar de índio é na aldeia” (cf. BORGES, 2006).

Assim, fui percebendo o quanto a relação sujeito/cidade é, de fato, um espaço movente, dinâmico, um universo opaco chamando à interpretação; a cidade expõe as diferenças, e nos expõe ao cruzamento de sentidos heterogêneos, ao contato com o Outro. O Outro=corpo do sujeito enredado no corpo da cidade, durante o percurso dos estudos desenvolvidos, coloca-se como essa materialidade complexa que busquei interpretar na dimensão discursiva dos recortes analisados.

A cidade incorpora o índio, criando uma espécie de naturalização, no entanto, inscreve-se na materialidade linguística, uma incorporação coisificada, negada, explorada, despessoalizada, pois o indígena não é um indivíduo no convívio social, ou faz parte de um cenário, como “decoração”, ou objeto “jogado por todo canto onde não deveria estar” ou é usado como freguês (em determinados estabelecimentos: mercados, restaurantes, hotéis), considerando que, mesmo numa relação comercial, há os que negam o Xavante como freguês.

Por outro viés, instaura-se a contradição, pois o corpo da cidade, também, vai sendo marcado pelas impressões do corpo indígena, empiricamente e na memória (por muito tempo a “Praça dos Garimpeiros” - fotos a e b - ainda será dita como a Praça dos índios”). Outras marcas passam a ser inscritas, como, por exemplo, em um nome impresso numa placa de rua “Rua Xavante”, em uma pintura que decora um muro, em uma escultura de um artista, no nome da maior empresa de ônibus do lugar, “Viação