Movimentos da contemporaneidade: a rua, as redes e seus desencontros


resumo resumo

Cristiane Dias
Marcos Aurélio Barbai
Greciely Cristina da Costa



Orlandi (2005: p. 77), é pelo "efeito da falha da língua inscrevendo-se na história" que outros sentidos podem vir à tona. O sentido de quebrar na charge está aberto, isso porque o cartunista joga com a polissemia do verbo quebrar, e ao fazer isso deixa brechas para outros sentidos do verbo, o que nos permite uma interrogação e algumas paráfrases. Que complemento reclama o verbo em primeira pessoa?

 

Quebro uma vidraça, logo existo!

Quebro a regulação da manifestação, logo existo!

Quebro o sistema, logo existo!

Quebro o sistema político vigente, logo existo!

Quebro um sistema coercitivo, logo existo!

Quebro o Estado, logo existo!

 

Essas paráfrases nos permitem observar o deslizamento de sentidos produzido pela reivindicação de um objeto direto. No sentido de quebrar da primeira paráfrase se ancora inicialmente o discurso da criminalização, esvaziando o sentido de manifestação e interditando o direito a ela. Porém, esse sentido desliza para romper com o discurso criminalizante, dando relevo a quebrar enquanto ruptura (romper, dividir, partir, despedaçar, dobrar, desobedecer, etc.).

Os black blocs quebram a necessidade histórica de nomear, de identificar, de se institucionalizar, de ceder ao Estado. Nessa direção, quebrar, enquanto ruptura, pode significar a resistência em relação ao próprio discurso da criminalização e a reiteração do sentido de romper com o próprio funcionamento da formação social capitalista. Para existir, a premissa é a de que os black blocs precisam quebrar. Efeito de sentido que faz furo no sentido de manifestação, dos movimentos sociais, ideologicamente constituídos, marcando um ritual com falhas.

 

Por fim, a partir desses três movimentos de análise que se sustentam por um laço de conectividade, mobilidade e manifestação, o que se pode dizer da sociedade e suas formas de organização (hierárquica, coercitiva, determinada por relações de força e de poder)?

Podemos dizer que os laços sociais que praticamos hoje têm sofrido uma profunda transformação. As nossas condições de sociabilidade e manifestação política são outras. Isso se dá em/por uma metaforização entre a cidade e a rede, que amplia