Visões da cidade de Natal: construção identitária a partir do discurso poético


resumo resumo

Marília Varella Bezerra de Faria



toda enunciação envolve pelo menos duas vozes: “Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. [...]. A palavra é espécie de ponte lançada entre mim e os outros” (BAKHTIN; VOLOCHINOV, 1992, p. 113, grifo do autor).

Além disso, considera-se que a construção identitária se encontra sempre em processo, “formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam” (HALL, 2005, p. 13). As identidades do sujeito contemporâneo são abertas, contraditórias, fragmentadas, inacabadas.

Este artigo está organizado em seis seções. Na primeira seção, tecem-se considerações acerca da formação do povo potiguar. Na segunda seção, busca-se apresentar a cidade de Natal, com o objetivo de melhor contextualizar o objeto deste estudo. Nas duas seções seguintes, de natureza analítica, apresentam-se, de forma descritiva, os levantamentos de marcas estilísticas no discurso dos poetas. Na quinta seção, apresentam-se possíveis identidades da cidade de Natal, a partir de um diálogo entre as perspectivas contidas nos poemas em análise. Por fim, na seção de conclusão, retomam-se as interpretações, apontando-se para a inconclusibilidade da construção das identidades da cidade.

 

A formação do povo potiguar

Falar sobre identidades significa também falar sobre raízes, sobre origem e sobre formação de um povo. “A história dos movimentos identitários revela uma série de operações de seleção de elementos de diferentes épocas articulados pelos grupos hegemônicos em um relato que lhes dá coerência, dramaticidade e eloquência” (GARCÍA CANCLINI, 2013, p. XXIII).

Nesse sentido, observa-se que o conceito de identidade não assume uma definição precisa. A definição do que cada um é independe da nação a que pertence, não possui uma forma acabada. Em vez disso, atravessa as décadas e se reformula. As identidades, que antes eram vinculadas ao território, hoje dependem do que se tem ao dispor; demarcam-se no poder de consumo.

Esse pensamento é integralmente compartilhado por Hall (2003, 2005) ao afirmar que todas as nações modernas são híbridos culturais. Os sujeitos são produtos de mudanças próprias do mundo contemporâneo, onde surgem novas configurações sociais, econômicas e políticas. Não existem categorias unificadoras, como uma única cultura, um único povo, uma única etnia. Esses são efeitos dos processos de