Relacão sujeito indígena/cidade: Análises para a construção de um objeto de pesquisa


resumo resumo

Águeda Aparecida da Cruz Borges



que linda, ela parece uma indiazinha!” e eu não sabia bem o motivo pelo qual me atribuíam tal aparência. Configura-se, desse modo, um retorno à memória, não como busca ao passado, lembrança, mas como memória discursiva, interdiscurso, “[...] algo que fala antes, em outro lugar e independente (ORLANDI, 2006, p.21).

A decisão sobre um objeto para ser analisado, com fundamentação na Análise de Discurso, não é aleatória; ela nasce das nossas indagações, faz parte de um passado que pulsa em nós e se atualiza; de outro modo, é o efeito de repetição e de reconhecimento discursivo, que sempre pode ruir sob o peso de um acontecimento novo, que perturba a memória já estabelecida. É nesse espaço de retomadas, conflitos, regularizações (PÊCHEUX, 1999), que uma trajetória de pesquisa se constrói, onde o esquecimento emerge para significar o “[...] acontecimento do significante no mundo” (ORLANDI, 2001, p. 46).

Quando (re)encontrei os Xavante no ‘mesmo’ espaço, ou seja, no terminal rodoviário, já destituído  da sua função anterior, o espaço abrigava  mendigos, bêbados, prostitutas, “passantes”. Na ocasião, mais especificamente no ano de 2003, esse (re)encontro (re)significou no acontecimento discursivo fundador deste texto.

Propus, na época, ao Projeto de pesquisa Arte, Discurso e Prática Pedagógica ADP-CNPq/2003, um subprojeto, dando enfoque à presença indígena no espaço público da cidade, principalmente, na praça do antigo terminal rodoviário, pensando, paradoxalmente, essa presença física: corpo presente, em relação às esculturas indígenas fixadas ao redor de outra praça, chamada a Praça do “Garimpeiro”, conforme aparece na foto a) abaixo. Uma análise em relação a esse paradoxo pode ser encontrada em Borges (2006)[3] e, posteriormente, sobre a retirada das referidas esculturas da Praça, ver foto b) em Borges (2009)[4].

O fato é que, desde o princípio da pesquisa, à medida da conformação do “corpus”, os materiais foram mostrando o jogo entre acatar e expulsar o índio da cidade.

 

 

BORGES, A. A.C. “A constituição discursiva sobre o índio em Barra do Garças/MT: um paradoxo na praça. In: Revista Panorâmica Multidisciplinar, nº 06. EdUFMT, Cuiabá,  2006.

BORGES, A.A.C. “Índios Xavante X não índios na cidade de Barra do Garças/MT: gestos de interpretação discursiva” In: INDURSKY, F.; FERREIRA, M. C. L. & MITTIMANN, S. (Orgs). O Discurso na Contemporaneidade: Materialidades e Fronteiras. Claraluz, São Carlos, 2009.



[3] BORGES, A. A.C. “A constituição discursiva sobre o índio em Barra do Garças/MT: um paradoxo na praça. In: Revista Panorâmica Multidisciplinar, nº 06. EdUFMT, Cuiabá,  2006.

[4] BORGES, A.A.C. “Índios Xavante X não índios na cidade de Barra do Garças/MT: gestos de interpretação discursiva” In: INDURSKY, F.; FERREIRA, M. C. L. & MITTIMANN, S. (Orgs). O Discurso na Contemporaneidade: Materialidades e Fronteiras. Claraluz, São Carlos, 2009.