Relacão sujeito indígena/cidade: Análises para a construção de um objeto de pesquisa


resumo resumo

Águeda Aparecida da Cruz Borges



Por último, “tem que ser na forma da lei”, “essa coisa de porque é índio é incapaz e inocentam”, “nada a ver, precisa de cidadania assim como qualquer um”, retoma-se a inscrição no discurso jurídico (na forma da lei e incapacidade), contudo negando esse discurso (nada a ver) e recuperando o imaginário de índio esperto (pejorativamente), mas- essa conjunção adversativa divide a sequência e possibilita, pela necessidade da cidadania, a inclusão do índio no conjunto indefinido de “qualquer um”.

Em um dos seus “giros” Zoppi-Fontana (2004)[1], a partir da análise de materiais da imprensa e produzidos na universidade, aponta para uma convergência de funcionamentos que regularizam um processo discursivo universalizante e “privatizante”, no que tange à relação com a cidade. Ela escreve que esse processo:

 

Perpassa instituições diferentes (mídia, imprensa, universidade) articula campos discursivos distintos (jurídico, administrativo, científico, político, pedagógico), constituindo de maneira imbricada, elementos de saber que se impõem na sociedade produzindo consenso, o “senso comum” do “cidadão comum” (...) que anseia levar “uma vida decente...nas metrópolis brasileiras”(...). Movimento perverso que nos leva da consciência universal à eterna vigilância e através dela à cidade “alertaidem, p. 110, grifo nosso).

 

Esses “fatos discursivos[2]situam as questões que me coloco para afirmar que, inserido na cidade e sofrendo seus efeitos, o sujeito se constitui num movimento entre/antes, isto é, entre/antes a/na aldeia e o/no espaço da cidade agora. Não chega a ser brasileiro, a cidadania é atribuída (condicionalmente).

Posso afunilar a trama discursiva, pensando esquematicamente, como segue:

 

INDÍGENA NA CIDADE----------------RELAÇÃO COM O ESTADO BRASILEIRO

FORA DA CIDADE = NÃO CIDADÃO URBANO

DENTRO DO DIREITO



DENTRO DO DIREITO

NA CIDADE= CIDADÃO COMUM

 

Texto no qual a autora no jogo de significações das cidades, em duas instituições que participam do processo de produção social dos sentidos (a imprensa e a universidade) analisa a miragem do “cidadão comum”.

Cf. (ORLANDI: 1996) que distingue as noções de dado e fato utilizadas pelas teorias de linguagem; a noção de fato permite desnaturalizar a relação com a realidade empírica, questionando a possibilidade de ter um acesso direto a dados “puros”, independentemente da abordagem teórica assumida. Trabalhar na análise com a noção de fato implica partir do pressuposto de que todo recorte do real se constitui já como leitura, realizada a partir de uma determinada matriz teórica.



[1] Texto no qual a autora no jogo de significações das cidades, em duas instituições que participam do processo de produção social dos sentidos (a imprensa e a universidade) analisa a miragem do “cidadão comum”.

[2]Cf. (ORLANDI: 1996) que distingue as noções de dado e fato utilizadas pelas teorias de linguagem; a noção de fato permite desnaturalizar a relação com a realidade empírica, questionando a possibilidade de ter um acesso direto a dados “puros”, independentemente da abordagem teórica assumida. Trabalhar na análise com a noção de fato implica partir do pressuposto de que todo recorte do real se constitui já como leitura, realizada a partir de uma determinada matriz teórica.