Relacão sujeito indígena/cidade: Análises para a construção de um objeto de pesquisa


resumo resumo

Águeda Aparecida da Cruz Borges



enunciação. O conceito de acontecimento linguístico a autora busca em Guilhaumou (1997) o qual é pensado como momento de emergência de formas singulares de subjetivação. Ainda é a autora (ibidem, s/nº) que afirma:

 

[...] explicitar/trabalhar a eficácia ideológica de determinado corpus em análise implica descrever as operações de formulação que constituem as sequências discursivas como reformulações presas na rede de enunciados (domínio de saber) e na rede de lugares enunciativos (modos de dizer/modalidades enunciativas) que inscrevem o sujeito no fio do discurso.

 

Os “cidadãos” barra-garcenses, embora se digam cidadãos, pela equivocidade da língua, distribuem, dividem os cidadãos em: “comuns”, “brancos”, “todo mundo da cidade”, “qualquer um” e “índios” (uma vez que as sequências respondem à nossa pergunta sobre a consideração acerca da presença indígena na cidade).

Desse modo, a identificação do sujeito não é plena, pois as relações sócio-históricas são afetadas pelo outro-Outro. Não é plena, porque há a incompletude do sujeito, da linguagem e há os equívocos na língua. E é nesses espaços de deslocamento, de desestruturação/reestruturação que se dão os processos de identificação do sujeito e as modalidades de subjetivação e que prescrevem as posições a serem ocupadas pelo sujeito, por meio do funcionamento da forma-sujeito.

Neste ponto, interessa dizer que, conforme o recorte em análise, o índio é cidadão pela permissão do não índio; ademais, é importante observar que há um conflito no dizer dos “cidadãos” entrevistados que quebra o discurso, mostrando a dificuldade de reconhecer o Outro como cidadão em a) “agora não tem mais jeito de voltar atrás...fala português”; o advérbio temporal, ainda que marque um presente, deixa interpretar um antes, ou seja, houve um intervalo na história (tempo para aprender a língua portuguesa), isto é, fala a língua, logo, é cidadão.

Em b) “tem uns né”? Porque “tem os que ainda ficam na aldeia”; aqui, o discurso divide os índios entre uns (indefinidos) e os que ainda ficam na aldeia (definidos pelo artigo, entendidos pelo ainda, na projeção de um futuro passível de mudança). Ainda é possível interpretar, nesse gesto de atribuição de cidadania, que ser cidadão no caso (b) é “ser julgado pela lei”; se sabemos que quem é julgado, é criminoso, então: índio é criminoso.

Em c) ”ele deve ser tratado como o branco”, “já num tá aí, vivendo aí que nem todo mundo na cidade”, a questão que ressalta na divisão do sujeito índio, nessa sequência, é de tratamento e ocupação do espaço; é cidadão porque está na cidade (aí) e “deve ser” (verbo modalizador) tratado como o branco=todo mundo (universalizante).