Relacão sujeito indígena/cidade: Análises para a construção de um objeto de pesquisa


resumo resumo

Águeda Aparecida da Cruz Borges



Pela negação podemos encontrar em uma formulação a coexistência de discursos antagônicos.

A negação diz respeito à presença do oposto no fio do discurso. Mais do que isso, “a negação é um dos processos de internalização de enunciados oriundos de outros discursos, podendo indicar a existência de operações diversas no interior do discurso em análise. Em suma, essa construção evidencia a presença do discurso-outro” (INDURSKY, 1997, p.213).

 

Esse discurso-outro se faz presente no discurso-um sob diferentes modos e é nesse sentido que busco analisar o funcionamento da negação pela memória, os sentidos estabelecidos e que entram no esquema X não é Y, X não é Z, X não é W, constroem, pela negação, pela ausência, a imagem do que seria X.

A negação ao índio funciona discursivamente trazendo o discurso-outro para o espaço do discurso-um, pelo trabalho do sujeito na língua, fazendo ambos os discursos coexistirem, mediante um conflito instaurado na formulação, acerca da construção do imaginário do que poderia ser aproximação, o convívio com os Xavante naquele espaço. É pela negação de tudo que não se quer que o sentido é estabelecido, ainda que não formulado. Podemos extrair das sequências em discussão:

 

Prefiro não lembrar X eu lembro

Não quero saber X eu sei

Eu nem vejo Xeu vejo

 

O processo de identificação do sujeito Xavante que frequenta a cidade de Barra do Garças é produzido pela instauração de uma temporalidade, que atualiza  e determina o espaço do outro, por meio do preconceito, da invisibilidade e, ao mesmo tempo, projeta esse sujeito para o lugar do excluído, discriminado, marginalizado, interditado, destinado a voltar para o lugar de onde veio, no entanto, ele está, cada vez mais, presente na cidade.

As sequências de algumas entrevistas, nos possibilitam afirmar que, de fato, muitas pessoas da população de Barra do Garças (P1, 2, 3) quando interrogadas sobre a presença dos Xavante na cidade, têm a ilusão de origem de  que expressam o “seu” ponto de vista. Elas se inscrevem no que se pode chamar de juridismo, ou interpelação pelo discurso jurídico.

Pechêux (1975) considera que não existe discurso sem sujeito, nem sujeito sem ideologia. Assim, não é possível entendê-los separadamente. Por mais que trabalhemos a autoria como ilusória, a ideologia como enganadora e o discurso como materialização da ideologia, não podemos desprezar a relação que se estabelece entre eles e o sujeito.