Movimentos da contemporaneidade: a rua, as redes e seus desencontros
Cristiane Dias Marcos Aurélio Barbai Greciely Cristina da Costa
condições, são impedidos de transitar por esse espaço. Na análise acima mostramos que há um discurso incessante que não para de ecoar que não se pode confundir o shopping com a rua. Mas, quem de fato "pode" transitar pela rua? Como podemos compreender a rua como lugar de manifestação, organizada pela conectividade da/na rede, em que a criminalização de movimentos sociais também se dá?
Quando a metáfora é a da rua enquanto espaço político,lugar indistintamente de todos, aotomamos as manifestações de 2013, podemos observaro processo de estilhaçamento produzido poressa metáfora queaponta para o fato de que nem todos podem se manifestar.Ou ainda, de queé proibido manifestar-se. Chegamos, por meio de um processo de deslizamento de sentidos, ao fato de que a rua pode se tornar (se significar) um espaço cerceado. Um espaço de cerceamento da mobilidade, da liberdade, da livre expressão. Interditam-se os sujeitos e sentidos. Por outro lado, esse mesmo espaço, por ser político, permite o conflito, o protesto, se configurando como espaço de insurgência dos movimentos sociais. Efeito da divisão dos sentidos, das relações sociais hierarquizadas e de poder.
Acompanhando as discussões sobre a criminalização de alguns movimentos sociais durante as manifestaçõesde 2013, nos ocorreu pensar de que modo o discurso da criminalização é formulado e circula na rede com a mesma velocidade com que se organizam as manifestações. Na busca por compreensão, passamos a observar de que maneira as discursividades de criminalização, especificamente, as que criminalizam oblack bloc, são engendradas, cujo funcionamento nos parece jogar com a interdição da rua e a interdição do sujeito. Em paralelo, observamos o modo pelo qual esse discurso é desestabilizado pelo equívoco tomado como "o ponto onde o impossível (linguístico) vem se conjugar à contradição (histórica); o ponto onde a língua toca a história” (PÊCHEUX& GADET, 2004, p. 62), a começar por uma suposta origem doblack bloc.
Dupuis-Déri (2004) afirma que a expressãoblack blocsfoi inventada pela polícia de Berlim Ocidental para denominar ossquatters[6]que, em 1980, com capacetes, escudos, pedaços de pau e diversos projéteis, foram às ruas para defender o lugar onde moravam. Na descrição inicial do autor, uma outra característica se destaca, todos vestiam preto. O autor avança dizendo que osblack blocsfazempartedeuma história política ligada ao movimentoAutonomen, da Alemanha Ocidental, que seria um prolongamento do movimento italianoAutonomia.Composto pelos movimentos sociais
[6]Termo usado para se referir a pessoas que ocupam habitações sem a permissão de seus proprietários.