O ritual da mística no processo de identificação e resistência


resumo resumo

Freda Indursky



este entre-lugar se constituía na clara evidência de que a pulsão político-social que movia os sujeitos situados nos dois lados daquela fronteira ideológica não era idêntica, ainda que ligados por laços de aliança e colaboração. Como pode-se perceber, educação e mística aparecem fortemente entrelaçadas, indicando que tais práticas se revestem de um forte movimento de resistência à educação burguesa.

Quando esse grupo concluiu seu curso, foi chegada a hora da formatura. E, como não poderia deixar de ser, a mística foi parte constitutiva daquela prática de colação de grau. Para marcar aquele acontecimento, no dia da formatura, o MST trouxe seus símbolos e cânticos. Mas isso ainda não era suficiente. Necessitavam da terra no palco do Salão da UNIJUÍ. E terra foi colocada naquele chão, representando para eles mesmos e para a Universidade o seu lugar social, o seu lugar de pertença. Uma mística preparada especialmente para aquela solenidade, pois a formação específica de professores para a escola do MST era algo da ordem da raridade, era um acontecimento histórico, representava a concretização de uma utopia e, como tal, tinha de ser diferente. E nada mais simbólico para sinalizar a especificidade daquela colação de grau do que trazer a terra para a Universidade, para junto deles, a terra para nela pisar e assim rememorar para eles mesmos que tipo de professores estava saindo dali, mas não apenas isso. Também visava lembrar à própria Universidade o perfil daquela turma de formandos e assim marcar aquele acontecimento histórico.

Mais uma vez a fronteira invisível, o entre-lugar, tornou-se momentaneamente tangível pelo viés da mística. Diria que essa terra no palco rememorou a aliança que havia sido firmada entre a UNIJUÍ e o MST: de um lado, sem-terra buscando na Universidade a concretização de um objeto de desejo – preparar-se para também ocupar a escola e formar os sem-terrinha, de acordo com os saberes por eles entendidos como substantivos. De outro, a Universidade, abrindo suas portas para o diferente, para um Movimento que luta, no mínimo, pela transformação das condições de vida do homem no campo. Uma aliança entre FD diferentes, baseada na possibilidade de tentar dar concretude a um sonho, que uniu esforços para transformar uma utopia em realidade[1].

 

 

 

 

E durante algum tempo, efetivamente, este sonho tornou-se realidade pela conquista de outra utopia: as escolas itinerantes do MST eram possíveis porque seus professores eram membros do MST. Sonho este que foi derrubado posteriormente por um ato do Governo. Mas esta já é uma outra história...



[1] E durante algum tempo, efetivamente, este sonho tornou-se realidade pela conquista de outra utopia: as escolas itinerantes do MST eram possíveis porque seus professores eram membros do MST. Sonho este que foi derrubado posteriormente por um ato do Governo. Mas esta já é uma outra história...