Se retomamos Nunes (ibidem), vemos a complexidade de subjetivar-se um sujeito indígena, quando, pela temporalidade, são silenciados seus mitos, suas línguas, encontrando no nosso material, a sua identificação (é um quase índio brasileiro).
Explorando, ainda, o recorte, chamamos a atenção para o discurso reiterado e preconceituoso “índio é ladrão”, “índio é selvagem”, “índio é preguiçoso”, que se inscreve nas sequências discursivas.
De acordo com Orlandi (2000), o preconceito está na origem da estagnação social e histórica. É uma forma de censura para impedir o movimento, a respiração dos sentidos e, consequentemente, de novas formas sociais e históricas na experiência humana. A autora amplia a reflexão:
Os sentidos não podem sempre ser os mesmos, por definição. Os mesmos fatos, coisas e seres tem sentidos diferentes de acordo com suas condições de existência e de produção. No entanto, há um imaginário social, que na história, vai constituindo direções para esses sentidos, hierarquizando-os de acordo com as relações de sentidos, e logo, as relações sociais. (...) O preconceito não vem de um processo consciente, e o sujeito não tem acesso ao modo como os preconceitos se constituem nele. Vem pela sua filiação a redes de sentidos que ele mesmo nem sabe como se formaram nele. (2002, p.197).