Relacão sujeito indígena/cidade: Análises para a construção de um objeto de pesquisa


resumo resumo

Águeda Aparecida da Cruz Borges



Se retomamos Nunes (ibidem), vemos a complexidade de subjetivar-se um sujeito indígena, quando, pela temporalidade, são silenciados seus mitos, suas línguas, encontrando no nosso material, a sua identificação (é um quase índio brasileiro).

Explorando, ainda, o recorte, chamamos a atenção para o discurso reiterado e preconceituoso “índio é ladrão”, “índio é selvagem”, “índio é preguiçoso”, que se inscreve nas sequências discursivas.

De acordo com Orlandi (2000), o preconceito está na origem da estagnação social e histórica. É uma forma de censura para impedir o movimento, a respiração dos sentidos e, consequentemente, de novas formas sociais e históricas na experiência humana. A autora amplia a reflexão:

 

Os sentidos não podem sempre ser os mesmos, por definição. Os mesmos fatos, coisas e seres tem sentidos diferentes de acordo com suas condições de existência e de produção. No entanto, há um imaginário social, que na história, vai constituindo direções para esses sentidos, hierarquizando-os de acordo com as relações de sentidos, e logo, as relações sociais. (...) O preconceito não vem de um processo consciente, e o sujeito não tem acesso ao modo como os preconceitos se constituem nele. Vem pela sua filiação a redes de sentidos que ele mesmo nem sabe como se formaram nele. (2002, p.197).

 

Entendo que, nessa perspectiva, o preconceito é uma discursividade que se impõe sem sustentação em determinadas condições de produção; essa discursividade, como vou confirmando, é seguramente mantida por relações imaginárias atravessadas por uma não permissão do dizer que apaga (silencia) sentidos e razões da própria maneira de significar.

Quero dizer, assim como Orlandi (idem), que o preconceito se realiza em cada sujeito que diz, mas não se constitui no indivíduo em si; ele é de natureza histórico-social e se faz nas relações sociais, pela maneira como essas relações significam e são significadas, e os sentidos da relação constitutiva do sujeito com o espaço e vice-versa é uma materialidade produtiva para compreender o funcionamento do preconceito.

Sabemos que a subjetividade pode se alojar em mecanismos linguísticos específicos, não sendo possível explicá-la estritamente por eles; assim, é pelo viés da história, da ideologia, da memória marcados nas materialidades significantes, que sigo buscando entender discursivamente, indícios dos limites presentes no discurso dos sujeitos da pesquisa.

(A4) Eles vive na redoma deles, só ali na sinuquinha do Bar do Jura, agora a vida dessa gente é a sinuca e a coca-cola...eu heim...fico até  curiosa de saber o que que eles pensa, se pensa né, eu passo perto e fico olhando eles.

(A5) quero distância desse povo, tenho até medo de chegar perto e eles colar em mim. Que saber? É me melhor...eu nem vejo.