Relacão sujeito indígena/cidade: Análises para a construção de um objeto de pesquisa


resumo resumo

Águeda Aparecida da Cruz Borges



características somadas a determinados traços culturais, como, por exemplo, corte de cabelo e, ainda, tipos de adereços, como o brinco Xavante, ou a gravata de algodão usada em determinados rituais e que muitos fazem questão de mostrar, mesmo em situações cerimoniais não índias. Mesmo modificado, “incompleto”, ele é reconhecido como índio.

A prática discursiva está diretamente relacionada com a formação ideológica. Os sujeitos já estão inscritos numa Formação Discursiva, que foi construída historicamente. Observemos a seguir o recorte de sequências das entrevistas com acadêmicos do CUA/UFMT (A):

 

(A1) Quando a gente era criança a gente vivia convivendo com os índios; só que eles são muito espertos, e a minha vó mesmo dizia que não pode dá mole eles são que nem bicho, é por isso que/ aí que tá o esquema de hoje eu não gostar de índio, sabe, porque eles robam a gente, sabe, eles enganam a gente. Os que estudam na cidade que já tem muito tempo, até conversam na língua portuguesa já mudaram um pouco...é...mais é índio né prof.?

 

(A2) Índio quer tudo na mão; trabalhar que é bom, nada, não são igual que a gente que dá duro se quiser estudar e sempre foi assim, no meu modo de viver não tem lugar pra índio, eles não vão ser assim como nós.

 

(A3) O índio, hoje, ele já era assim bem... podemos dizer assim bem português, um quase português, um quase índio brasileiro, ele fazia faculdade de Direito, lá em Brasília (...) Então, assim, quando o índio ele já tá bem... dentro da nossa cultura, até dá pra conversar; agora quando ele é um índio que mora na aldeia, dificulta né? (...).

 

Dentre outros aspectos, ressalta-se a temporalidade marcada nesse recorte de sequências que as divide num antes: “quando a gente era criança”, “e sempre foi assim” (continuidade, foi/é assim), “ele já era assim”, e num agora: “aí tá o esquema de hoje eu não gostar de índio”, “e sempre foi assim”, “o índio hoje”, no entanto regularizam/atualizam um discurso: “índio é ladrão”, “índio é selvagem”, “índio é preguiçoso”, mesmo incorporando a nossa cultura não chega a ser brasileiro: “ um quase português, um quase brasileiro”.

Compreender a temporalidade significa atentar para as diferentes temporalidades inscritas no discurso, mostrando as relações entre elas e os efeitos de sentido que aí se produzem. A Análise de Discurso não trata da temporalidade empiricamente, num tempo cronológico, mas por meio dos processos discursivos. Conforme Nunes (1996), um discurso remete a outros discursos dispersos no tempo; ele pode simular um passado, reinterpretá-lo, projetá-lo para um futuro, fazendo emergir efeitos temporais de diversas ordens. O autor (2005) desenvolveu um trabalho acerca do discurso sobre as línguas indígenas, em meados do século XIX, pensando a temporalidade, a interpretação