Relacão sujeito indígena/cidade: Análises para a construção de um objeto de pesquisa


resumo resumo

Águeda Aparecida da Cruz Borges



É possível afirmar que, nacionalmente, o discurso sobre os povos indígenas, significativamente/historicamente, inscreve-se na homogeneidade e imprime a relação índios e mata/selva, portanto, a cidade não comporta índio.

O inevitável contato entre povos indígenas e não indígenas, desde a colonização do Brasil, e no espaço que se dá no ir e vir da aldeia para a cidade, é repleto de significações. Há muitos trabalhos que abordam o assunto como processo de “desagregação cultural”, aculturação, que torna o Outro igual, ou seja, o índio perde o próprio ser e passa a ser o Outro, na medida em que incorpora aquilo que é do Outro.

Não vejo esse espaço de relações como lugar empírico, mas como espaço de sentidos, no qual me inscrevo, procurando desvendar o processo de identificação do sujeito indígena Xavante na cidade de Barra do Garças.

Identificação, que, mesmo apontando, em determinados materiais, uma mudança de posição em relação à visão etnocêntrica europeia sobre eles, ainda é dominada pela visão preconceituosa, hierárquica e divisionista[8], apresentada nas análises.

Como dizer da identificação de um corpo, o indígena, que existe, sendo expulso discursivamente de outro corpo, o da cidade, tomando espaço, ocupando, à força, isto é, mesmo sendo expulso discursivamente, fica ali entranhado.  Os Xavante, pelo que venho conhecendo, tanto pela bibliografia quanto pela proximidade que se criou nas nossas conversas, principalmente, nos últimos três anos, são um povo forte, resistente, tanto que eles se autodenominam A’uwê Uptabi, que significa povo guerreiro.

Outro aspecto relevante, na tomada de decisão frente ao objeto, tem a ver com o corpo, considerando que, na materialidade do sujeito, o corpo significa. É em Orlandi (2012, p.83) que me sustento nessa entrada para a questão do corpo, ao dizer: “A significação do corpo não pode ser pensada sem a materialidade do sujeito. E vice-versa”.

O Xavante “in(corpo)rado” na cidade e, carregando as suas marcas, mesmo deslocado do imaginário geral de índio, em Barra do Garças e, certamente, em toda a extensão do País, é reconhecido pelas características físicas impressas na ordem do corpo, e que encontram, no imaginário constituído historicamente, o efeito de sentidos da memória discursiva: cabelos lisos, pele “vermelha”, ausência de pelos, tronco largo,

Sobre essa visão, analisamos o enunciado “lugar de índio é na aldeia” sob a organização de famílias parafrásticas, num artigo publicado In: Estudos dicursivos em Mato Grosso: Limiares, EdUFMT, (2008).



[8] Sobre essa visão, analisamos o enunciado “lugar de índio é na aldeia” sob a organização de famílias parafrásticas, num artigo publicado In: Estudos dicursivos em Mato Grosso: Limiares, EdUFMT, (2008).