Reportagem e Folhetinismo: narrativas infames como poder finalista


resumo resumo

Rodrigo Marcelino



 

O Coronel Ernesto Senna, repórter pré-histórico do Jornal do Comércio, é, como o anoso jornal, uma sólida instituição nacional. Foi íntimo de muitos dos eminentes homens do Império e conta numerosos amigos entre os guindados paredros republicanos, sendo ainda hoje considerado um pistolão respeitável[1].

 

Vários são os livros e trabalhos publicados por Ernesto Senna. E entre eles Notas de um repórter (1895). Talvez seja o nosso primeiro livro de reportagem. Essa narrativa é de polícia, por si um acontecimento puro de um enunciado que, ao estar cruzado com uma espécie de visível, anima cada espaço disciplinar da cidade.

 

 

Arquiva em sua memorável cabeça, ora nimbada de escassos fiapos de cabelo, as tradições da grande cidade carioca e de quando em vez, para minorar saudades, exibe, alinhando-as com elegante clareza, nas colunas veneráveis do órgão venerável, as suas abundantes reminiscências” [2].

 

O cronismo de pólicia e a reportagem mantêm entre si uma íntima ligação, chegando mesmo a entendê-la tal qual a relação do “romance policial, que criado sob o aspecto que o temos, no século passado, tornou-se um prolongamento do jornal [...] em nome de um espírito de justiça, sem o qual não há comunidade que possa sobreviver” (OLINTO, 1955, p.131, 132). Em uma ordem finalista a narrativa do repórter nasce policial. Não dizendo com isso que entre o repórter e o repórter de polícia ocorra uma simultaneidade de práticas indissociáveis, em processo relacional. Porque aí não há duas práticas, mas somente uma unicidade, com certeza múltipla, à medida que há uma dimensão policial mesmo em outras narrativas.

Careta, 21 de dezembro de 1912.

Careta, 21 de dezembro de 1912.



[1] Careta, 21 de dezembro de 1912.

[2] Careta, 21 de dezembro de 1912.