A cidade enquanto objeto do discurso enciclopédico


resumo resumo

José Horta Nunes



O objetivo deste trabalho é analisar uma série de verbetes enciclopédicos que significam a cidade. As entradas foram tiradas da enciclopédia Wikipédia[1]. São elas: cidade, município, metrópole, região metropolitana, cidade global, megacidade e megalópole. São palavras de ampla circulação na atualidade, em uma conjuntura em que a urbanização tem se acentuado e os discursos sobre a cidade são afetados pela formação de vários tipos de aglomerados urbanos e pelos processos de globalização. Partimos das seguintes questões de análise: como a cidade se constitui enquanto objeto de discurso na enciclopédia? A partir de que posições de sujeito isso ocorre? Que formações discursivas são mobilizadas para significar a cidade? Como as sistematicidades linguísticas condicionam a construção/desconstrução desses objetos discursivos? Em que medida a formação de um imaginário citadino, afetado pelo simbólico, participa dos processos de individu(aliz)ação dos sujeitos?

A Wikipédia se propõe como uma "enciclopédia universal e multilíngue", em que a autoria é aberta a "todos". Com o slogan “A enciclopédia livre que todos podem editar”, ela se insere no discurso da globalização, significando em seus verbetes o global e o local. Importa-nos aqui a tipologia enciclopédica enquanto observatório dos discursos citadinos. A partir da posição do enciclopedista da Wikipédia, com uma autoria ao mesmo tempo “anônima” e “livre”, são representadas diversas posições a partir das quais os objetos citadinos são constituídos, bem como sua relação com discursos, instituições, autores, textos, etc. Ao divulgar nos verbetes os saberes urbanos, em sua diversidade, a enciclopédia é um índice da circulação dos discursos sobre a cidade na contemporaneidade. Ao mesmo tempo, a análise nos leva a observar como tais saberes são reduzidos, organizados, transformados, e como eles se relacionam com o interdiscurso (o complexo das formações discursivas).

O discurso enciclopédico é um dos que tendem a estabilizar sentidos em uma conjuntura. Ele está ligado em grande medida aos discursos de organização da cidade[2].  Mais especificamente, trata-se de um discurso de divulgação, que faz circular os saberes urbanos a um público leitor amplo, local e global, e nessa medida temos uma posição de mediação entre os especialistas na cidade, as instituições, os discursos administrativos, legislativos, governamentais, científicos, e os sujeitos leitores.

 

WIKIPÉDIA. Wikimedia Foundation. Endereço: http://pt.wikipedia.org. Acesso em 21 de outubro de 2014.



[1] WIKIPÉDIA. Wikimedia Foundation. Endereço: http://pt.wikipedia.org. Acesso em 21 de outubro de 2014.

[2] Conforme E. Orlandi, "Temos proposto, em nossa reflexão, uma relação entre ordem, que é do domínio do simbólico na relação com o real da história (a sistematicidade sujeita a equívoco) articulação necessária e contraditória entre estrutura e acontecimento, enquanto a organização refere ao empírico e ao imaginário (o arranjo das unidades)." (Cidade dos Sentidos. Campinas:  Pontes, 2004, p. 35)