Revista Rua


Apresentação Rua 19 Volume 1

 

          Estamos em meio a um acontecimento histórico que ainda merecerá muitas análises por nos demandar uma reflexão cuidadosa e consequente que não nos capture em meio a uma dispersão construída milimetricamente pela mídia que divide “baderneiros” – com suas paráfrases promovendo indistinções e sobreposições – e “manifestantes pacíficos” – um monobloco que apaga na unidade. Tão simples quanto. Mas é uma dispersão que toca também o real da língua e da história (Pêcheux e Gadet, 2004). Buscar flagrar este real (Orlandi, 1999) vem sendo o projeto acadêmico-científico-político deste Laboratório de Estudos Urbanos que publica, desde 1995, a revista RUA. Uma revista multidisciplinar que procura fazer circular artigos que toquem, em suas especificidades disciplinares, teóricas e epistemológicas, as diferentes formas de significar e significar-se no espaço urbano. É o que estes onze artigos que compõem a seção Estudos, o vídeo apresentado na seção Artes, e a resenha proposta sobre o Cypherpunks fazem acontecer neste primeiro volume do número 19 da revista RUA.

          Bethania Mariani e Vanise Medeiros nos brindam com uma fina análise de formas materiais de uma presença do Estado nas redes de significação da sociedade em E quando a pichação é da prefeitura? Pichar, proscrever, dessubjetivizar. De seu lado, e ainda em uma compreensão da imagem – no caso, fotográfica – as autoras Viviane Brust e Verli Petri fazem nosso olhar pousar para os modos como a paisagem fotográfica inscreve uma memória (memórias) em O que quer, o que pode um discurso? O que quer, o que pode esta foto? Analisando uma rede discursiva em torno do atual, e, assim conhecido, Estádio do Mineirão, Priscila Campos e Silvia Franco Amaral desconstroem o novo que adjetiva o Estádio, mostrando os sentidos investidos em seu processo de construção e reforma, no artigo A Copa do Mundo de Futebol de 2014 e o (novo) Mineirão. Os autores Yuji Gushiken, Lawrenberg Silva e Adoniram Magalhães analisam a condição simultaneamente tradicional e multiétnica presente em uma pequena feira de Cuiabá, perscrutando o olhar sobre um corpo que degusta a diferença, em seu artigo Rumores e sabores de uma feira: Culinária popular e cosmopolitismo banal em Cuiabá. E o corpo – e sobre o corpo –, na acuidade de um olhar sobre o dizer, está no artigo O corpo na relação trabalho x prazer, no qual Fernanda Surubi Fernandes e Olimpia Maluf-Souza analisam essa relação nas práticas de prostituição. Esse corpo também ancora análises que buscam compreender modos de subjetivação de pacientes com câncer de mama em Sentidos do/no corpo interpelado pelo câncer de mama de Lívia Fabiana Saço e Eliana Lúcia Ferreira. Corpo com memória, corpo de memória instiga as pesquisadoras Angela de Aguiar Araújo e Luciana Leão Brasil a entrarem na complexa rede discursiva inscrita no Museu Sitio de Memoria em Córdoba em seu artigo Do Digital às Digitais no Sitio de Memoria (Córdoba, Argentina): (Re)interpretações da História Política na Cidade em Movimento. Ainda recortando o social e o político pelo arquivo que neles se constitue e os constituem, Andressa Carvalho Silva-Oyama reflete sobre discursos em torno da confidencialidade e de sua quebra em Wikileaks: Discurso e confidencialidade em arquivos, desestabilizando a relação entre o Estado e a sociedade. Colocando igualmente o Estado em foco, o artigo de Rosimar de Oliveira – O "progresso" e a significação da sociedade em alguns dos primeiros dicionários monolíngües brasileiros – trabalha a não evidência da palavra progresso e seus efeitos na configuração de uma pretensa unidade de sociedade brasileira. Ancorando-se ainda sobre palavras, palavras que nomeiam, pino Alex Rocha de Deus apresenta-nos uma análise do funcionamento semântico-enunciativo de nomes de rua no processo de urbanização da cidade analisada em Nomes de estados brasileiros em ruas e avenidas de Pontes e Lacerda: Sentidos de urbanização do/no extremo oeste brasileiro. Fechando esta seção, e trazendo à cena a relação de identificação constitutiva do processo de escolarização, o artigo Subjetividade e discurso: a representação da língua (indígena e portuguesa) para professores Terena,  de Alessandra Manoel Porto e Vânia Maria Lescano Guerra, analisa as representações de língua e linguagem no discurso de professores Terena, da Região Aquidauana (MS).

          Na seção Artes, o leitor poderá ver um sensível e consequente vídeo – Palabras que Hacen Falta – de Angela Araújo, Luciana Brasil e Carlos Ferreira que estabelece uma relação, mas não se consome nela, com o artigo sobre o Museu de Córdoba. O leitor ainda poderá conhecer um pouco das atividades do Labeurb em suas notícias, e, completando a Seção Resenhas e Notícias, nos é apresentado, por André Vargas, o livro Cypherpunks: Liberdade e o Futuro da Internet, publicado pela Boitempo Editorial em 2013.


             Boa leitura a todos!

 


Número 19 - Junho 2013
ISSN 1413-2109/e-ISSN 2179-9911

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