As cidades vivem na contemporaneidade certos processos de identificação e de individuação dos sujeitos. No espaço público, isso se nota pela formação de grupos identitários que manifestam ou disputam os espaços citadinos. As praças rejeitam ou acolher certas identidades, e, quando elas acolhem, isso se institucionaliza por meio de projetos de parceria entre o público e o privado.
Identidades como as dos grafiteiros, artistas de rua, grupos de hip-hop têm se ampliado nos espaços das praças. Por vezes, há parcerias entre prefeituras e alguns desses grupos, envolvendo também outras instâncias administrativas (da saúde, da educação, da cultura) e também empresas, como as de tintas. Já grupos como pichadores, mendigos e moradores de rua costumam ser excluídos.
Outras identidades que frequentemente se instalam nos projetos de praças são as dos idosos, dos aposentados, dos grupos ecológicos, de moradores de condomínios, de escolas, de associação de bairros, dentre outras.
Com a ampliação dos espaços identitários comunitários, as identidades cívicas sofreram algum desgaste. Antes, as identidades de tipo nacionalista, regionalista, citadina, histórica, fundadora eram mais disseminadas, sobretudo nas áreas centrais. Os sentidos de “depredação”, “furto”, “pichação”, marcam as práticas que se voltaram contra essas identidades, tendo em vista uma certa desidentificação com tais imaginários de organização da cidade, ou com a ausência do Estado em trazer condições adequadas para a vida pública.
Os projetos de revitalização das praças tentam “resgatar” a vida pública nas praças, mas as condições são outras, e há uma tensão entre as visões cívicas e as identidades comunitárias que se multiplicam, produzindo, de um lado, a diversidade social e cultural no espaço público, e de outro, uma fragmentação social que afeta o convívio entre os diferentes.
Bibliografia
NUNES, J. H. Praças Públicas na contemporaneidade: história, multidão e identidade. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, 53(2): 157-168, Jul./Dez. 2011