Européias
Alemão
Língua dos imigrantes de origem alemã, suíça, russa (região do Volga), polonesa e austríaca no Brasil. Falada atualmente ainda no Paraná (Rio Negro, Ponta Grossa, Rolândia, Entre Rios), Santa Catarina (Blumenau, Joinville, São Francisco do Sul, Brusque, Itajaí, São Bento) Espírito Santo (Santa Lopoldina) e Rio Grande do Sul (São Leopoldo, Santa Augusta, São Lourenço, Lageado, Montenegro).
Embora o Brasil ocupasse o segundo lugar como país de destino dos falantes de alemão que vieram para o continente americano (o primeiro país de destino são os Estados Unidos), eles não se destacaram do conjunto de imigrantes que vieram para cá. Foi o primeiro grupo de imigrantes que veio ao país, mas representa apenas 9% do total de imigrantes.
As primeiras colônias fundadas por imigrantes falantes de alemão foram Leopoldina e São Jorge dos Ilhéus, em 1818, na província da Bahia, e depois Nova Friburgo, em 1820, perto do Rio de Janeiro.
No final do ano de 1824, D. Pedro I, que era casado com D. Leopoldina, austríaca, enviou o Major Georg Schäffer, seu amigo pessoal, a Hamburgo para recrutar soldados e colonizadores, pois queria fortalecer seu exército no caso de haver resistência de tropas fiéis a Portugal ao processo de libertação do Brasil. O Major Georg voltou ao país com cerca de 124 pessoas. Dessas, 38 receberam terras nas redondezas do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul. Lá se fixaram na Real Feitoria do Linho Cânhamo, posteriormente denominada São Leopoldo.
Entre 1824 e 1830 entraram cerca de 5.000 falantes de alemão no país. Os motivos que propiciaram a vinda dos imigrantes foram os grandes problemas econômicos nos países de origem, e a propaganda das companhias de imigração. Eles se fixaram principalmente no Estado de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, na área das florestas, que ficava entre o litoral e o planalto, isolada das grandes propriedades de criação de gado. Esse local lhes foi destinado pelo governo brasileiro, que tinha interesse em povoar a região ainda deserta. Entre 1847 e 1854 entraram cerca de 2700 falantes de alemão no país.
No Espírito Santo os falantes de alemão se fixaram principalmente nos vales superiores dos rios Jucu e Santa Maria da Vitória. Dentre eles havia falantes originários da Alemanha e Pomerânia (região alvo de disputas entre a Polônia e a Prússia, estado da atual Alemanha), que chegaram entre 1860 e 1879. Antigas colônias são os municípios de Domingos Martins, Santa Leopoldina, Santa Teresa, Alto Santa Maria, Vinte e cinco de Julho, Limoeira, Jatiboca, São João de Petrópolis.
O fluxo de imigrantes falantes de alemão foi interrompido durante 14 anos, devido à revolução dos Farrapos, e porque a propaganda para a imigração foi proibida na Alemanha em 1859. Sua proibição foi revogada em 1896, sendo permitida a propaganda apenas para os três estados do sul do Brasil. Por esse motivo, dos 5 milhões de imigrantes que deixaram a Alemanha entre 1824 e 1939, apenas 7% vieram para o Brasil, de maneira que até o início da II Guerra Mundial há o registro da entrada de cerca de 300.000 falantes de alemão no Brasil. Somando-se seus descendentes, considera-se que até 1935 havia um total de 1.020.000 falantes de alemão no país.
Os primeiros imigrantes foram trabalhar na agricultura, embora cerca de 60% deles exercessem pequenas profissões manuais paralelas. Com a crescente industrialização da Alemanha, a partir de 1870, o contigente de imigrantes passou a ter outras características, constituindo-se principalmente de pessoas originárias de centros urbanos.
Os falantes de alemão organizavam-se em pequenos grupos, onde mantinham os seus dialetos locais. Foi a partir da unificação da Alemanha, nos anos 1970, que as missões nacionalistas protestantes voltaram seus olhos para a América do Sul e imigraram para cá. Eles trouxeram, além da doutrina religiosa, o alemão padrão (Hochdeutsch), pois os pastores tinham formação acadêmica. Esses pastores encontraram resistência inicialmente nas comunidades já existentes, mas conseguíram, em grande parte, implantar seu discurso, que pregava a filiação ao novo Estado alemão. É nessa época também que diversas publicações em idioma alemão são feitas no Brasil. São jornais, cartilhas, manuais de orietação religiosa e familiar, manuais técnicos, boletins informativos e livros de história e literatura inspirados na vida dos imigrantes.
Em 1917 o Brasil entra na I Guerra Mundial contra a Alemanha e a circulação de periódicos em alemão e as instituições (escolas, igrejas) em alemão foram proibidas. No entanto, interessantemente, entre 1910 e 1928 aumenta o número de periódicos em língua alemã, e os também já existentes têm sua tiragem ampliada.
Logo após o término da I Guerra Mundial, as relações diplomáticas entre os dois países foram reatadas e o alemão, bem como o funcionamento de escolas, igrejas, deixou de ser proibido.
Nova proibição ocorreu com a entrada do Brasil na II Guerra Mundial e novamente escolas, igrejas, foram fechadas e jornais foram proibidos de circular. Apesar dessas proibições, há um número considerável de brasileiros que se consideram falantes de alemão, por serem descendentes de imigrantes. No entanto, não há pesquisas recentes que possam fornecer dados numéricos confiáveis.
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Bibliografia do verbete AlemãoReferências bibliográficas
Carmen Zink Bolognini