Entre o corpo e a enunciação. O retorno à voz em Marina Lima
Pedro de Souza Felipe Jose Martins Pereira
deste fenômenode mixagem sonora,um procedimento analítico marcando a “separação entre o que se enuncia e o que é silenciado”(FOUCAULT, 1977, p.IX). Esta evocaçãofoucaultiana advémdoheteróclitodispositivoa que recorremosno campo da fonética acústica.Apercepçãoauditivapropiciada pelosaparatos de medição acústica faz calar asdizeressobre o ruído que permanece como grão navoz soadaem pleno estado de rarefeitasonorização, ou seja, emitidaapartir damínimaextensãoque lhe é organicamente disposta.Precisamente assumimosque emvez de tomarcomo fatoosrumores sobrea perdaefetiva da voz da cantora -especulação silenciada- recorremosaum pontual procedimento de medição deslocando o discurso docampo da Fonética Acústica para o daexperiênciade escutaque dáacessoao diagrama doprocesso subjetivo operado na voz.Assim,a perspectiva adotadavisacolocar as propriedades acústicas dos sons da falano jogo da produção de subjetividades. Destamaneira é que, analiticamente, o dispositivo cunhado paraformação do objeto desaber que constitui o domíniodaFonética Acústica, entraem rede com o dispositivo daAnálise de Discurso.
Portanto, no quadro deste trabalho, não é o caso de adotar a perspectiva objetivante de uma análise puramente acústica, especialmente noque dedutivamente leva da falaao sistema fonético da língua. Em verdade, valores percentuais que comparam os traços físicos durativos de emissão vocal e outraservem bem paramostrar o que acontece quando ouvidos mediados por instrumentos de maior apuração acústica permite escutar não apenas o som flagrado no movimento instantâneode sua realização, mas o que, nas regiões corporais em que se origina há que deixar de fora sob o risco de o som esperado não existir sob a onda de seus formantes.
Nisto que há de ser esquecidona realização acústica do somda fala, advém a interrogação sobre o custo da enunciaçãono que diz respeito ao ato de falar ou de cantar. O aprimoramento dapercepção acústica, a apuração dos contornos físicos que geram unidades fonéticas e desenham contornos prosódicos permite, a partir dos experimentos acústicosencerrados em laboratórios, abrir para o que menos importa à linguística moderna, ou seja, para o limiar entre o falar e ocantar.
Assim é que, colocando-se aquém da mera busca dos aspectos acústicos da estrutura falada, elegemos a duração como um dos elementos dessas propriedades físicas da fala a fim de, após apreende-las por cálculos tãomensuráveisquanto os disponíveis no domínio da fonética acústica, o movimento da enunciação que permitecolocarem relevo, não os traços físicos da fala remetidos às possibilidades da língua, mas ás possibilidadesdo sentido e do sujeito a vir. No nosso caso, tratou-se não de