Entre o corpo e a enunciação. O retorno à voz em Marina Lima


resumo resumo

Pedro de Souza
Felipe Jose Martins Pereira



pedaços desta fala por onde a voz da sociedade do discurso vem dizer de que é feito o canto: “ela coloca a nu as dificuldades que ainda sente ao cantar”, “Parece a admissão de um limite”, um laço que ela, podendo, ainda resiste em desatar. ”. Pensando muito mais no discurso que pode ser o objeto de uma outra análise, tem-se aqui o correlato do discurso que constitui aquilo de que fala, ou seja, o acontecimento efêmero em que do canto se faz o sujeito.  Mesmo ao mencionar a cantora em cena “pronunciando em golpes várias letras "p", "t" e "c", nada a ver aqui com o discurso que diria das difíceis condições com que a voz cravada na carne, ou no seu grão, como diria Roland Barthes, a fim de realizar a forma que teria o som dessas letras para acusticamente refletirem a extensão e a frequência com que se tornam o som ideal da fala e da língua.

 

Considerações finais

Registramos neste trabalho apenas o lance inicial de uma pesquisa que está em curso em múltiplas direções.  A que nos deteve aqui veio da escuta da segunda gravação que Marina Lima fez de Grávida, e nela o emprego de uma outra voz funcionando como extensão da sua.

Podemos provisoriamente concluir que este gênero de sustentação acoplado à voz dominante funciona a modo de elemento coextensivo; não a voz, mas ao longo trajeto que ela é levada a cumprir na enunciação. O agudo contido na emissão da semivogal /i/ no último segmento silábico da palavra “parir” nada fica devendo a um efeito estético em que a voz se mostra no ponto em que pode e não pode soar.

Mantém-se o estilo de Marina nesta segunda gravação. Só que agora muito mais que apontar para o eu que se perde no trajeto da voz, aponta para a voz que falta antes que qualquer eu se manifeste no ato de cantar. Mesmo quando a voz falha, ali, na falha, ela se mantém plena do drama entre subjetivar e não subjetivar.

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Referências bibliográficas

BARTHES, R. O obvio e o obtuso. 1ª. Ed. Lisboa, Edições 70, 1982

DOLAR, M. Una voz y nada más. Editorial Manantial, 2007

FOUCAULT, M. O Nascimento da Clínica. 1a.ed. Trad. Roberto Machado. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1977~

GROSJEAN, M. “Le jeu musical des voix dan l’interaction”, in : BADIR, S. ; PARRET, H. (orgs) Puissances de la voix: Corps sentant, corde sensible. Limoge, Presses Univertaires de Limoge, 2001, p. 71-80