Mariza Vieira da Silva Claudia Castellanos Pfeiffer
As cartilhas pretendem demonstrar comocada ator social, gestor municipal, pequeno e grande empresário, e cidadãospode se engajarneste movimento, multiplicando ao seu redor a proposta de redução de sacolas plásticas, colaborando de forma efetiva para a qualidade de vida, a saúde e o bem estar de sua comunidade (p. 5- grifos nossos).
Interessante observar que nesse processo de individuação do sujeito,independentemente dea quem a cartilha se dirija– cidadão comum, gestor, empresário–,todos devem ocupar a posição sujeito de consumidor consciente, um lugar definido em uma determinada formação social. Temos, pois, uma discursividade funcionado em que estão apagadas “as dissimetrias e dissimilaridades entre os agentes dosistema de produção”, o que não se dá de forma explícita, uma vez que o processo pelo qual o sujeito é colocado em tal lugar – consumidor consciente - é apagado (Henry, 1990). Essas questões indicam quenão se trata deuma situação de comunicação entre o autor e o leitor dessas cartilhas; não se trata de uma transmissão de informação, masde um efeito de sentidos entre os interlocutores, de um discurso em funcionamento em sua relação com a exterioridade também discursiva. Nesse sentido, não se trata de presenças físicas de um homem genérico, a-histórico. A hipótese de Pêcheux (1990) é a de que esses lugares estão representados nos processos discursivos em que são colocados em jogo, não como “feixe de traços objetivos”, mas, sim, “representados, isto é,presentes, mas transformados; em outros termos, o que funciona nos processos discursivos é uma série de formações imaginárias que designam o lugar que A e B se atribuem cada um asie aooutro, a imagem que eles fazemde seu próprio lugar e do lugar do outro” (Pêcheux, 1990, p. 82); bem como do lugar do referente, ou seja, daquilo sobre o qualsefala.
A análise da cartilha, que se segue, irá nos ajudar a compreender esse movimento de diferentes discursividades, em que se produzem sentidos e se constituem posições sujeito e seus efeitos ideológicos.
2.1.ACartilha sobre aConferênciaRIO+ 20
Analisaremos aqui o funcionamento da cartilha elaborada pelo INPE-Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em maio de 2012, na ocasião em que muito se discutia e esperava-se daConferênciaRIO+ 20 que aconteceria em junho do mesmo ano.Apesar de não encontrarmos no títulouma relação direta com as “mudanças climáticas’, a cartilha vai na direção de mostrar que a relação do homem com o meio ambiente vem