Cáceres - nome luso de cidade mato-grossense


resumo resumo

Neuza Zattar



  1. O nome do povoado

Nomear um povoado é um acontecimento do dizer que faz diferença na sua própria ordem. O gesto de nomear sob a ordem do Governador uma localidade ‘sem nome’ significa, na enunciação do colonizador, a legitimação da posse, a transposição do rural para o urbano e a instalação de um nome na história luso-brasileira.

A nomeação, segundo Guimarães (2005b, p.9), “é o funcionamento semântico pelo qual algo recebe um nome”. Nomear, dar nome a alguém, se dá no acontecimento de linguagem, pelo funcionamento da língua, por entendermos que a língua funciona afetada pelo interdiscurso, pela exterioridade a que está exposta.

O nome próprio do povoado, que trataremos aqui, se dá no acontecimento do dizer em relação com os sujeitos falantes, ou melhor, em relação com a linguagem, com a exterioridade e com o sujeito, por compreender que “o dizer constitui-se como acontecimento na relação entre uma demanda do presente desse acontecimento e memoráveis de outros enunciados” (DIAS, 2013[1]).

Nessa perspectiva, o nome próprio se constitui linguístico-historicamente, identificando e/ou classificando social e juridicamente pessoas, povoados e objetos, pois o acontecimento de nomear se dá pelo cruzamento de diferentes lugares enunciativos que levam à nomeação do povoado, como o lugar social do Governador Albuquerque, designado pela rainha D. Maria I para explorar e tomar posse de terras na América portuguesa, e do Tenente de Dragões Antonio Pinto do Rego e Carvalho que, sob a ordem do Governador, funda a Villa.

A nomeação do povoado “Villa Maria do Paraguay”, conforme a ata, deu-se em obsequio do real nome de Sua Majestade”, D. Maria I, por ordem do Governador da Capitania de Mato Grosso, no entanto, a ata não textualiza o significado do sintagma preposicional “do Paraguai” na construção desse nome. Se suprimirmos o topônimo “Villa”, obteremos o nome “Maria do Paraguay”, em que o sintagma “do Paraguay, por analogia, predicaria “Maria”, atribuindo-lhe uma especificidade de origem que não é o caso, pois o nome da rainha Maria está ligado à Corte de Portugal e não ao rio que banha a vila. Mas, então, por que relacionar esse sintagma ao nome de “Maria”?

É possível dizer que o lugar social do Governador Albuquerque relaciona-se com uma história de enunciações que vai determinando o nome. O nome “Paraguay” rememora as enunciações do relato de viagem do Governador que assim descreve o rio:

Cf. Conferência apresentada no VII ENALIHC/UNEMAT, em Cáceres-MT, em  20/09/2013.



[1] Cf. Conferência apresentada no VII ENALIHC/UNEMAT, em Cáceres-MT, em  20/09/2013.