Memória e movimento no espaço da cidade: Para uma abordagem discursiva das ambiências urbanas


resumo resumo

Carolina Rodríguez-Alcalá



da significação. Esse caráter simbólico da percepção é ao mesmo tempo definido como sendo de natureza histórica e social, opondo-se nisso a uma visão psicologista (empiricista) do fenômeno; para Dewey, conforme Thibaud, “o que é percebido não é um conjunto de estímulos discretos decorrente de um trabalho de integração do cérebro, mas antes objetos e acontecimentos já dotados de significação, inscritos numa história e num contexto” (THIBAUD, 2004, p. 242, tradução nossa). Com esse gesto, Dewey situa a percepção sensível na dimensão política da experiência humana, enquanto fenômeno que responde às injunções institucionais características de uma sociedade dada, como lemos na definição que o autor dá de hábito, na qual Thibaud se fundamenta para caracterizar a ambiência enquanto fenômeno partilhável: os hábitos, que mobilizam nossas maneiras de perceber, de mover-nos, de compreender e de pensar, seriam respostas coletivas às solicitações do mundo, de caráter anônimo e não consciente, que “se inscrevem mais amplamente num conjunto de costumes e instituições específicas a uma forma de vida social” (DEWEY, 1902 apud THIBAUD, 2004, p. 249, tradução nossa)

Ora, a significação é um problema (também) lingüístico, além de ser uma questão filosófica crucial, o que abre as portas, no domínio das ambiências, para os especialistas da linguagem. É preciso, porém, que especifiquemos a concepção materialista de sentido que caracteriza a AD, e que fundamenta nossa abordagem das questões urbanas, para que possamos apontar de que modo na língua, enquanto base de processos discursivos, é possível analisar essas injunções históricas e sociais que afetam a percepção sensível e inscrevem o político na produção simbólica do espaço urbano levando em conta que o que está em jogo na noção de ambiência é a concepção do espaço urbano enquanto produção (AUGOYARD, 1995, p. 311 apud THIBAUD, 2004, p. 230).

A partir da análise de nosso corpus, gostaríamos de mostrar que uma das injunções que determinam os sentidos daquilo que é percebido no espaço urbano é a oposição público/privado, enquanto distinção histórica que dá uma configuração particular ao espaço produzido e às formas de sociabilidade estabelecidas na assim chamada tradição ocidental. Propomos que refletir sobre essa oposição, suas contradições e transformações históricas, pode ser relevante para a problemática das ambiências urbanas, ao permitir compreender de modo articulado as diferentes instâncias (técnicas, econômicas, sociais, políticas, culturais e outras) que intervêm na produção de um determinado espaço, entendido tanto do ponto de vista de sua